Policiais paulistas são coautores de crime em MG, diz secretário da Segurança
As informações já obtidas dão conta de que os policiais faziam a escolta de um empresário que ia de São Paulo para Juiz de Fora trocar dólares de forma clandestina.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves, afirmou nesta segunda-feira, 22, que trata os nove policiais civis do Estado que se envolveram em um tiroteio com policiais mineiros em Juiz de Fora (MG) como coautores dos crimes praticados na ação, incluindo a morte de um agente mineiro.
O negócio deu errado quando se descobriu que parte das cédulas em real que seriam usadas na negociação era falsa. Quatro dos policiais paulistas - dois investigadores e dois delegados, sendo um deles do Grupo de Operações Especiais (GOE), força de elite - estão presos em Minas
Mágino Alves afirmou que a apuração da Corregedoria vai além do fato de os agentes estarem fazendo trabalho extra oficial, o "bico" de seguranças privados - o que por si só já é vedado pela Lei Complementar 2007/79. "(O que está em curso) é bem diferente de uma conduta extraoficial simples e corriqueira. Todos nós assistimos à grande quantidade de dinheiro (R$ 14 milhões) que estava sendo transportada. Isso não permite dizer que era só um trabalho de acompanhamento, de escolta. Era um trabalho em coautoria com o crime que estava sendo cometido pelo particular", declarou o secretário.
As investigações criminais estão sob responsabilidade da Polícia Civil de Minas Gerais, enquanto a Corregedoria paulista apura infrações administrativas dos agentes de São Paulo. Para a polícia mineira, conforme audiência de custódia feita após a prisão em flagrante dos policiais, o empresário paulista Flávio de Souza Guimarães e Roberto Uyvare Júnior, "dono de empresas situadas em França, Espanha e Brasil", havia contratado a empresa de segurança de Jerônimo da Silva Leal Júnior, para "realizar um negócio milionário" em Juiz de Fora com o empresário Antônio Vilela.
Guimarães teria saído do local do tiroteio, o estacionamento de um hospital da cidade, antes de a troca de tiros começar. Leal Júnior e Vilela ficaram feridos na ação e estão presos. Leal Júnior seria dono de uma empresa de segurança e teria organizado o que a polícia mineira chama de "escolta vip".
Os paulistas envolvidos, em sua maioria, são policiais jovens e não tinham antecedentes de infrações funcionais graves. O delegado Rodrigo Castro Salgado da Costa, de 31 anos, do Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil de São Paulo, um dos presos em Minas, faz parte de uma safra de delegados em início de carreira que têm atuado com destaque em algumas ações na capital paulista. Ele é amigo do investigador Jorge Alexandre de Miranda, de 50 anos, lotado no Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), que por sua vez é meio-irmão de Leal Junior. O dono da empresa de segurança conversou com Jorge sobre o trabalho, pedindo que o ajudasse a recrutar policiais para ajudá-lo na escolta. O convite chegou a Rodrigo que, por sua vez, exigiu que outros policiais, seus amigos, participassem da operação, convidando o colega delegado Bruno Martins Magalhães Alves, de 30 anos, assistente do 95.º Distrito Policial (Heliópolis).
Outros seis policiais - os investigadores Caio Augusto Freitas Ferreira de Lira, Marcelo Pailotti de Almeida e Eduardo Alberto Modolo Filho, os agentes Cristhian Fernandes e Ferreira Cesar Raileanu, e o carcereiro Leandro Korey Kaetsu - foram chamados para dar suporte à operação. O delegado Rodrigo viajou a Juiz de Fora no avião fretado pelo empresário, enquanto os outros oito policiais foram em dois carros alugados.
Os detalhes do "desacerto", o desentendimento que resultou no tiroteio, ainda não estão claros. Antonio Vilela, o empresário mineiro que negociava com Flávio de Souza Guimarães, já havia sido detido pela Polícia Civil em São Paulo, em 2015, na cidade de São Roque, acusado de "aplicar um golpe" usando notas de dinheiro falsa.
Negativa
Flávio Guimarães prestou depoimento na Corregedoria da Polícia Civil nesta segunda-feira e negou que estivesse vendendo dólares na ação. Afirmou que iria "pedir um empréstimo" para sua empresa e havia contratado a segurança de Jerônimo Leal Júnior sem saber que os agentes seriam policiais civis. A reportagem não localizou a defesa de nenhum dos citados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.