Em viagem recente ao Vale do Jequitinhonha, fiz uma incursão ao  distrito de São Pedro, pertencente ao Município de Jequitinhonha. Localizado na margem esquerda do rio, ainda, mantém-se bastante isolado do outro lado da BR 367.

Há muito tempo, acalentava o desejo de conhecer o lugar. Queria fazer essa travessia de barca,  tal como na infância, antes da inauguração da ponte, em Almenara.

Foi uma aventura inesquecível. A paisagem natural, combinada com as construções antigas de São Pedro, forma um conjunto harmonioso.

São Pedro foi fundado no início do Século IXX, por volta de 1800,  pelo Padre Fernando. Por ter uma fazenda nas proximidades, ele reuniu um grupo de fiéis e celebrou uma missa.  No local, foi construída uma capela, consagrada a Nossa Senhora das Graças. 

Assim,  o distrito é mais antigo do que a própria sede do município, cujo marco de fundação  é a  7ª. Divisão Militar de São Miguel (atual Jequitinhonha), implantada em 1811.

Em 1880, São Pedro passa a  freguesia (ou paróquia), ainda pertencente à Diococese de  Diamantina. Embora  o padroeiro fosse  São Pedro, a devoção popular levou que a primeira igreja do lugar fosse consagrada a São Sebastião.

Vale dizer que a referida capela de Nossa Senhora das Graças   foi levada pela grande enchente do Rio Jequitinhonha de 1939. A Igreja de São Sebastião, por sua vez, foi carregada pela enchente de 1979.

Na parte alta do distrito, ao término da Rua do Sertão, o Padre Delvino Mota  construiu a Igreja Matriz de São Pedro, na década de 30, antes de assumir a paróquia de São João da Vigia (hoje Almenara).

Embora o padroeiro do lugar seja São Pedro, como a devoção popular está voltada para São Sebastião, é  desse último a festa tradicional. Acontece nas proximidades do dia 20 de janeiro, com  barraquinhas, leilões, levantada do mastro, reisados e procissão. 

Essas festas populares constituem uma tradição do Vale. São mescladas por religiosidade  e profano. Precisam ser preservadas, de modo a manter a identidade cultural da região.

Isto é importante porque diz respeito à preservação da história,  hábitos e costumes, que  compõe o sistema de valores éticos e sociais. Elementos  essenciais para despertar a consciência social, portanto,   capazes de promover mudanças de paradigmas.

Refiro-me ao fortalecimento da cidadania e ampliação do conhecimento no sentido amplo. Juntos formam a base sólida, que possibilita  forjar uma sociedade sustentável e voltada  para o autêntico desenvovimento sócio-econômico.

Diz a tradição que o padroeiro do velho distrito tem as chaves do céu. Resta  saber quem tem as chaves do progresso, capazes de retirar São Pedro e o Vale do Jequitinhonha do isolamento e da pobreza?

Permito-me apontar a melhoria das condiçoes de infra-estrutura e educação de qualidade. Com certeza, essas  chaves são capazes de abrir as portas do progresso sócio-econômico para o  Vale do Jequitinhonha e também para o Brasil.

É preciso, no entanto, que sejam assumidas como prioridades de Estado, independentemente dos governantes de plantão.

 

(*) Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e Pós-Graduado em Didática de Ensino Superior (UNEB-DF). É analista Financeiro do SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados