Justiça condena delegado da Polícia Civil a quatro anos de prisão por tentativa de extorsão em Ipatinga
Ricardo Cesari Borges hoje atua na delegacia de Jaíba, no Norte de Minas Gerais; investigador da PC envolvido no mesmo crime também foi condenado a dois anos de reclusão.
Delegado atualmente trabalha em Jaíba, no Norte de Minas (Foto: Reprodução/Inter TV dos Vales)
Tribunal de Justiça de Minas Gerais condenou o delegado Ricardo Cesari Borges, que atua na delegacia de Jaíba, no Norte de Minas, a quatro anos e quatro meses de prisão em regime semiaberto por crime de tentativa de extorsão. De acordo com o Ministério Público, o crime ocorreu em 2016 em Ipatinga, onde ele atuava na época. Além dele, um investigador da PC envolvido no caso foi condenado a dois anos de reclusão, mas teve a pena substituída por prestação de serviços. Com a decisão, os dois devem perder os cargos, segundo o MP.
Segundo o MP, o delegado e o investigador são suspeitos de tentar extorquir dinheiro de uma mulher que havia sido presa em Ipatinga por clonagem e receptação de veículos. As investigações da Corregedoria da Polícia Civil e do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) apontam que entre janeiro e março de 2016, o delegado exigiu da mulher cerca de R$ 8 mil para não incriminá-la com outras acusações. A vítima procurou a corregedoria da PC, denunciou o caso e fez um acordo de colaboração premiada.
De acordo com o MP, após a denúncia a Polícia Civil e o Gaeco passaram a monitorar as conversas e mídias sociais do delegado, captando, no dia cinco de setembro daquele ano, ameaças feitas pelo delegado contra a mulher. Ele teria dito que usaria registros de carros clonados, dos quais possuía acesso devido ao cargo, para instaurar inquéritos policiais contra a mulher se ela não lhe desse mais dinheiro.
Na mesma ligação eles descobriram que a entrega dos valores seria realizada no dia seguinte em uma churrascaria, onde policiais a campana viram e gravaram a negociação ilegal. Ainda de acordo com o MP, na ocasião, o investigador, cúmplice do delegado nas extorções, foi localizado próximo à delegacia e preso em flagrante. Já o delegado Ricardo Cesari Borges conseguiu fugir do flagrante, mas alguns dias depois, com a decretação da prisão preventiva, ele se apresentou na 4ª Sub Corregedoria de Polícia Civil em Belo Horizonte, onde foi preso e encaminhado à Casa do Policial.
O que dizem os envolvidos
Entraram em contato com o delegado Ricardo Cesari Borges que declarou que ainda não foi notificado da decisão. A defesa dele disse ainda que respeita a decisão, porém discorda dos seus argumentos, pois a sentença não considerou as provas apresentadas pela defesa. Afirmou ainda que o delegado somente não foi preso em flagrante, pois não aceitou receber um envelope que a suposta “colaboradora” tentou lhe entregar. A defesa afirmou que irá recorrer ao Tribunal de Justiça.
O advogado do investigador citado nas denúncias não foi encontrado.
Por meio de nota, a Polícia Civil de Minas Gerais esclareceu que jamais coadunou ou irá tolerar qualquer tipo de comportamento indevido, irregular ou prática delituosa por parte de seus servidores. Afirmou ainda, sempre que necessário, há uma firme atuação da Corregedoria Geral de Polícia Civil com punições rígidas.
Entenda o caso
Em setembro de 2016, o delegado de polícia Ricardo Cesari Borges teve a prisão preventiva decretada acusado do crime de concussão, quando um funcionário público exige, para si ou para outra pessoa, vantagem indevida.
No mesmo mês, a PC prendeu em Ipatinga, em flagrante, um investigador da polícia suspeito do mesmo crime. O policial, de 44 anos, foi encaminhado para a casa de custódia da Polícia Civil em Belo Horizonte. Em 2013, o policial havia sido transferido para Venda Nova, na região Metropolitana de BH, acusado de envolvimento em cobrança de propina e fraudes. Ele retornou para a delegacia de Ipatinga no início do ano.
O delegado foi preso dias depois, quando se apresentou à Corregedoria Geral da PC, em Belo Horizonte. As prisões fizeram parte de uma mesma operação, que ainda definiu a detenção de mais três policias civis e um advogado. Após a prisão, eles também foram encaminhados à casa de custódia. Todos os envolvidos foram liberados para responder em liberdade.