A Copasa atualizou nesta semana a lista de cidades das regiões Leste e Nordeste de Minas Gerais que precisaram adotar o sistema de rodízio emergencial no abastecimento devido ao período de estiagem de chuva.

Nos vales do Aço e Rio Doce estão listadas nesta situação as cidades de Engenheiro Caldas, Entre Folhas, Inhapim, Periquito, Revés do Belém, Santa Efigênia de Minas, São Geraldo, Tumiritinga, São José do Acácio, Sardoá, Urucânia, Vargem Alegre.

Dessas, Engenheiro Caldas, São José do Acácio e Vargem Alegre decretaram também estado de emergência devido à escassez hídrica; distritos na zona rural de Caratinga e Bom Jesus do Galho também estão em estado de emergência.

Nas regiões do Jequitinhonha e Mucuri, o sistema de rodízio foi adotado na cidade de Pedra Azul, onde já foi decretada situação de emergência. Em algumas cidades, a Copasa chegou a suspender, temporariamente, o rodízio após o registro de chuva. Caso de Periquito, que estava com abastecimento em rodízio desde setembro.

Outras cidades com captação independente de água também decretaram estado de calamidade, a exemplo de Guanhães, no Vale do Rio Doce.

Central de Minas é outra cidade a decretar estado de calamidade. O Rio São José, que abastece a cidade, quase secou. O município chegou a construir dois poços mas, segundo o diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), não foram suficientes para abastecer toda a cidade.

“A parte alta desde que a gente começou com o poço artesiano ela tá sendo abastecida com caminhão pipa, por que essa água não é nem suficiente para abastecer a parte baixa. Nós estamos trabalhando 24 horas, com três turnos para tratamento de água e mesmo assim está escasso”, disse o diretor da empresa de saneamento, José Luiz Neto.

Ao G1, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente afirmou que as bacias do Rio Doce e Jequitinhonha vivem o maior período de chuvas abaixo da média desde 1979.

Agonia
A situação de estiagem castiga muitos moradores. Nas cidades de Caratinga e Bom Jesus do Galho, apesar de algumas ocorrências de chuvas desde o fim de outubro, lagoas e córregos, que há meses sofrem degradação, estão desaparecendo.

Rubens de Melo mora há mais de 40 anos no distrito de Cordeiro de Minas, zona rural de Caratinga. No último ano o produtor rural viu a cisterna de sua propriedade secar completamente. O desespero de evitar que as cabeças de gado morressem de sede o levou a caminhar diariamente com o rebanho por cerca de oito quilômetros até a lagoa mais próxima onde os animais podem tomar água.

O sofrimento apenas foi amenizado quando, no auge do desespero, Rubens decidiu cavar uma nova cisterna dentro da calha do córrego seco; lá conseguiu água para tratar dos animais. "Foi Deus que me levou a cavar ali. Olha pra o cê ver, nos tava desesperado; eu tenho 16 cabeças de boi ali e não podia deixar morrer", disse o produtor que vive da aposentadoria rural dele e da esposa, que juntas somam dois salários mínimos.

O córrego seco em que o produtor cavou a cisterna é conhecido como Lagoa Silvana e nasce no distrito como um dos principais afluentes, sendo ainda importante ponto turístico da região que sofre com as consequências dos problemas climáticos associados à degradação ambiental.

O sargento da Polícia Militar de Meio Ambiente, Nereu Santana, há mais de 23 anos trabalha na região e fala que o efeito de recuo no nível da água é inédito. "Antigamente essa lagoa vinha até a beira da estrada; hoje tem pontos que ela recuou mais de 100 metros para dentro. Onde hoje é vegetação antes era água. A seca do córrego certamente afetou bastante na quantidade de água", pontuou.

No distrito, onde a água não falta é de má qualidade, segundo os moradores. “Essa água das cisternas aqui já foram pesquisadas em Caratinga e lá foi provado que ela está contaminada”, comentou Roberto Almeida, morador da cidade que mostrou que a água que sai da cisterna das casas dos moradores apresentam cor e cheiro forte; os mais de 2.500 habitantes do distrito não têm tratamento de água e esgoto.