A dor provocada pela perda das vidas de nove crianças e de uma professora, vítimas do incêndio na Creche Gente Inocente, abalou até quem já convive rotineiramente com a morte.É o caso de Miguel Fernandes de Vasconcelos, coveiro do Cemitério São Lucas, onde foram enterrados os 11 corpos – incluindo o do autor do ataque, que também deixou cerca de 40 feridos. Os pequenos ficaram sufocados na sala da creche, gritando pelas mães, como foi o caso do menino Mateus Felipe Rocha Santos, de 5 anos, a nona criança morta na tragédia, cujo corpo foi sepultado ontem em Janaúba, sob salvas de palmas e honras militares. Mateus teve 90% do corpo queimado e morreu no Hospital Joao XXIII, em BH, na madrugada de segunda-feira.

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https://youtu.be/kj9UtcBpmOU

“A gente já convive com a morte, mas, neste caso, é muita dor. É muito triste ver que tantas crianças inocentes morreram por causa de uma covardia”, lamenta Miguel. “Sofri muito como profissional, como pai e como ser humano. Foram mortas crianças inocentes e indefesas em um ato violento. Foi difícil suportar isso”, afirma o coveiro, lembrando que nunca imaginava sepultar nove crianças em tão curto espaço de tempo. “Morreram muitas sem ter culpa, sem saber por que, de forma tão cruel”, acrescenta.

Há cinco anos no ofício, o coveiro ganha um salário mínimo por mês. “Sou um trabalhador como qualquer outro. A diferença é que lido com a dor e com o sentimento de sofrimento. Também sofro com as perdas das pessoas.” Junto com a dor, a tragédia trouxe sobrecarga para Miguel, o único coveiro do Cemitério São Lucas. Mas, para ele, pior do que o cansaço físico foi a soma da tristeza e dor pelas mortes de tantas crianças. “Foi muito desgastante e me deixou com o coração comovido. Todos dias, quando fui para a casa, à noite, chorei muito”, contou.