Na denúncia de assédio contra um padre de Bocaiúva, no Vale do Jequitinhonha,  feita pela mãe de um adolescente de 17 anos, constam mais de 150 ligações para o menor em três dias.

Segundo a mãe dele, no domingo (13), o adolescente foi à igreja e, após a missa, enquanto aguardava um amigo, o vigário da Paróquia Senhor do Bonfim,  o padre Marcos, de 52 anos, pediu o celular dele para convidá-lo a participar de um grupo de oração. Na segunda (14), de tarde, o adolescente contou para a mãe das ligações do padre; a partir daí, a mãe orientou o filho a gravar as ligações. Na terça (15), a mãe procurou a delegacia para denunciar o caso. Em seguida, o padre foi afastado das atividades de vigário da Igreja da Matriz.

 Muito abalada, e com medo,  a mãe  pediu para não ser identificada. “Estou me sentindo muito triste, revoltada, porque você ensina e educa o seu filho e de onde a gente menos espera que vai acontecer uma coisa errada, é onde acontece. Uma dor tão grande que eu não consigo me expressar; estou passando por algo que eu nunca imaginei passar, ouvir o que ouvi. O que eu espero, agora, é Justiça”.

As gravações das conversas do adolescente e do padre foram registradas por um aplicativo de celular.

Em um dos áudios, o vigário menciona que iria rezar uma missa 'rapidinho' e depois convida o adolescente para ir à casa dele, onde teria 'cervejinha e carninha'. Em outra, o adolescente menciona que vai levar um amigo, e o padre pede para ele ir sozinho.

Em entrevista, a mãe conta que espera que, com a divulgação do caso, outras famílias sejam alertadas.

“Eu fiquei feliz por saber que tenho um filho amigo, que confiou em mim, e me contou o que estava acontecendo. Foi aí que eu consegui buscar forças [para entender o caso] e inclusive orientá-lo a gravar. Foi uma decepção. Eu preciso dizer para outras mães que elas têm de confiar nos filhos, manter sempre um diálogo, para evitar que o pior aconteça; foi isso que aconteceu comigo”, disse.

Sempre aos domingos

O adolescente nasceu na cidade e frequentava a igreja Matriz da Paróquia Senhor do Bonfim aos domingos. A mãe era uma incentivadora pela busca de Deus. “Eu não deixei de acreditar em Deus, mas fica uma certa dúvida. Meu filho demonstra pra mim que está bem, porque ele tá vendo a minha tristeza, mas ele não está bem com a situação. Isso me dói. É um estado de choque”, conclui.

Ao menos, 15 arquivos de gravação foram entregues à Polícia Civil. O Ministério Público de Bocaiuva também investiga o caso, que segue em segredo de Justiça.

De acordo com a assessoria da arquidiocese, o padre é natural de Bocaiuva e, antes de voltar à cidade, servia em uma igreja de Jequitaí. Ele estava na cidade há menos de dois meses e chegou antes da tradicional festa do Senhor do Bonfim.