Uma tradição com quase dois séculos e meio de existência, cultuada pelo povo negro do Vale do Jequitinhonha, é objeto de um estudo inédito da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). O projeto intitulado “História da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos” trabalha pela preservação da história de Chapada do Norte, a partir de registros das primeiras décadas do século XIX.

A ação envolve a Pró-Reitoria de Extensão, Departamento de Artes e o Núcleo de História e Cultura Regional (Nuhicre), em parceria com o Governo do Estado, por meio do Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG). A duração prevista para o estudo é de dois anos, com interface da pesquisa com as práticas extensionistas.

A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foi fundada por volta de 1820, por escravos que residiam no então distrito, cenário comum naquela região diante do surgimento de outras localidades com as mesmas características e com registro de devoção à santa.

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A proposta da pesquisa cultural em Chapada do Norte surgiu durante as intervenções realizadas pela Unimontes na última edição do Festival de Inverno de Grão Mogol, em 2016. Um dos diferenciais do evento está na divulgação das manifestações culturais e populares, especialmente dos municípios do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha que fazem parte do circuito do lago da usina hidrelétrica de Irapé, como é o caso de Chapada do Norte.

Batuqueiros dançam e cantam em louvor à Santa do Rosário.

Diante da participação no evento, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos formalizou uma solicitação à Unimontes. O presidente do grupo, Maurício Costa, pediu auxílio aos professores na avaliação no estado de conservação e na restauração dos livros de compromisso da Irmandade.

A ação de avaliação (viabilidade e valores) e restauração foi acordada com o setor de restauro do Iepha/MG, mas diante do valor histórico detectado junto à comunidade, a Unimontes cumpriu uma visita técnica a Chapada do Norte para analisar outras potencialidades culturais. “Percebemos valores culturais praticamente intactos por mais de 200 anos”, relata o professor Denilson Meireles, do curso de Ciências da Religião e integrante do Nuhicre/Unimontes.

Nas próximas semanas, o projeto será apresentado institucionalização junto ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPEx/Unimontes) e, caso o pedido seja aprovado, estará apto para a inscrição em editais de financiamento junto às agências oficiais de fomento.