Estudante de Diamantina é a primeira brasileira a ser aceita em doutorado na Universidade de Oxford
A colação de grau no curso de Engenharia Mecânica, do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), realizada no último mês de abril, teve um sabor especial para a estudante Bárbara Emanuella Souza. Bárbara também comemorou o fato de ter sido aceita no programa DPhill Engineering Science Departament, da University of Oxford.
Ser aceita numa instituição que atualmente ocupa a primeira posição no ranking das melhores universidades do mundo (sendo seguida por Caltech, Stanford, Cambridge, MIT e Harvard), segundo o Times Higher Education, coroa a vida acadêmica de Bárbara com mais um sucesso, após ter cursado parte dos seus estudos em Harvard e ser premiada, recentemente, na 5ª edição da Semana da Integração: ensino, pesquisa e extensão (Sintegra) da UFVJM por um dos melhores trabalhos do evento.
Bárbara Emanuella Souza ingressou na UFVJM no 1º semestre de 2011, pelo processo de seleção seriada da universidade, denominado Sasi, quando ficou classificada em 1º lugar para o curso de Ciência e Tecnologia, bacharelado que tem o curso de Engenharia Mecânica como uma das habilitações decorrentes possíveis. Durante os anos de 2014-2015, participou do programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal, permanecendo nos Estados Unidos por um ano e meio.
A primeira instituição na qual ingressou ao chegar aos EUA foi a University of California – San Diego, onde completou parte do bacharelado em Engenharia Mecânica, buscando ampliar seus conhecimentos em ciência dos materiais, biomateriais e bioengenharia. Foi em cursos ministrados por professores reconhecidos internacionalmente nessa área que sua paixão cresceu a ponto de definir como seu objetivo de carreira realizar uma pesquisa de doutorado sobre o desenvolvimento e caracterização de biomateriais. E foi a partir dessa experiência lá que assumiu o compromisso de aumentar a participação das mulheres na ciência e engenharia.
Após assistir a uma artroplastia para uma substituição total do joelho nessa universidade, sentiu-se motivada a ajudar a encontrar potenciais novos métodos para o processamento de biomateriais com propriedades mecânicas superiores que minimizariam as falhas dos implantes. “Após a cirurgia, fiquei apaixonada por próteses e, ao mesmo tempo, percebi como esse procedimento é invasivo”, conta Bárbara.
Em março deste ano, já perto de se formar no curso de graduação, submeteu à 5ª Sintegra o trabalho “Estudo in Vitro do Efeito do Dimetilsulfóxito (DMSO) nas Propriedades Mecânicas de Linfócitos Humanos: uma análise por meio da Microscopia Óptica e Confocal”. Desenvolvido numa parceria entre membros do Grupo de Pesquisa em Biomecânica e Bioengenharia (GBB) do ICT e pesquisadores do Laboratório de Imunologia (Labimuno) do Departamento de Farmácia da UFVJM, o trabalho foi selecionado como o melhor dentre os apresentados na área de Ciências Biológicas.
O objetivo desse estudo foi investigar o efeito do DMSO sobre proteínas do citoesqueleto (actina e tubulina) através da avaliação de mudanças geométricas nas células do sangue humano in vitro, já que se sabe que o DMSO é um composto com diversas propriedades farmacológicas e terapêuticas. No entanto, o seu efeito isolado sobre as propriedades mecânicas das células é pouco conhecido.
Bárbara decidiu aplicar para University of Oxford desde que voltou do Ciência sem Fronteiras, motivada principalmente pelo prestígio da academia. Em dezembro de 2016, já estava preparada para o processo de seleção, composto por provas como o TOEFL®, teste de Língua Inglesa reconhecido em todo o mundo, e o Graduate Records Examination – GRE, feito por alunos nos países estrangeiros ao saírem da graduação, que inclui Inglês e Matemática avançados. Além disso, o Departament of Engineering Science também exige a escrita do projeto a ser desenvolvido no programa. Por fim, cartas de recomendação e análise de currículo.
O curso tem início em 2017 e previsão de duração de 3 a 3,5 anos. A estudante terá bolsa integral e ajuda de custo para cursar o doutorado em Ciências da Engenharia.
Pela sua trajetória, Bárbara demonstra que a receita de sucesso começa com a perspectiva que cada um tem a respeito de si mesmo. “Gostaria de lembrar a todos para acreditar no seu próprio potencial e no potencial da nossa universidade. Muitas vezes, pelo fato de a UFVJM ser uma universidade pequena e ainda pouco conhecida, muitos alunos acreditam que suas oportunidades aqui são limitadas. No entanto, a única coisa que nos limita somos nós mesmos. Coisas incríveis estão acontecendo dentro dos campi e nós precisamos tirar o máximo proveito delas”.
Projeto de pesquisa pretende contornar barreiras atuais na terapia do câncer a partir da nanotecnologia
O projeto submetido por Bárbara Emanuella ao Departament of Engineering Science, da University of Oxford, é “Next-Generation Nanocomposites Integrating Metal-Organic Frameworks (MOFs) for Engineering Biomedical Applications”.
As redes metal-orgânicas (Metal Organic Frameworks – MOFs), uma classe emergente de materiais híbridos, estão entre os tópicos mais fascinantes de pesquisa em nanotecnologia. Sua composição química e estrutura ajustáveis e funcionalidade de alto nível leva os MOFs a serem uma plataforma promissora para aplicações de bioengenharia e dispositivos médicos, como, por exemplo, a administração controlada e direcionada de fármacos.
As funcionalidades ajustáveis de nanopartículas de MOFs excedem significativamente as capacidades de nanocarregadores e de agentes de imagem existentes, com vantagens significativas sobre os sistemas aplicados atualmente. Devido ao grande número de MOFs existentes e às vastas aplicações bio-orientadas possíveis, há uma grande oportunidade para alcançar grandes avanços nesse campo emergente.
Uma possível abordagem para superar os desafios existentes é o desenvolvimento de nanocompósitos de MOFs. Embora tenha sido recentemente desenvolvida uma série de novos fármacos, muitos deles não são aplicados em razão da ausência de vias de distribuição eficazes, o que acarreta uma baixa biodisponibilidade.
No caso do tratamento quimioterápico, por exemplo, a escassez de alternativas que permitam o ataque preciso às regiões tumorais reduz a eficiência do fármaco, prolongando os tratamentos e seus graves efeitos colaterais nos tecidos normais. Tais circunstâncias destacam a necessidade de desenvolver novas plataformas que combinem função diagnóstica e terapêutica.
A nanotecnologia, aplicada à encapsulação de moléculas de fármacos, apresenta potencial para contornar as barreiras atuais na terapia do câncer. A confluência desses fatores pontua a demanda no desenvolvimento de dispositivos MOF para bioaplicações, como pretendido pelo projeto.