Banco comunitário de Teófilo Otoni desponta como referência em Minas Gerais
A participação ativa dos movimentos da economia popular solidária nos Fóruns Regionais de Governo, propondo ações para o setor, tem beneficiado os bancos comunitários, instituições que fomentam pequenos negócios.
O Banclisa de Teófilo Otoni, no Território Mucuri, por exemplo, vem consolidando sua moeda social “Lisa”, principalmente durante as feiras regionais, incentivadas pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese) e pelo Fórum Mucuri.
A última feira movimentou um valor recorde de 40 mil lisas (R$ 40 mil). A Associação Aprender Produzir Juntos (APJ), entidade que gerencia o Banclisa, considerou o montante inédito. “Ficamos entusiasmados com a repercussão. Esses eventos servem para dar credibilidade a moeda social, para a divulgação do banco e ampliação do nosso cadastro de clientes”, ressalta a coordenadora da APJ, Maria Soares.
A APJ é atuante no Fórum do Mucuri, como representante da sociedade civil. “Nos fóruns já levantamos propostas de investimento e infraestrutura para a realização das feiras regionais”, destaca Maria Soares.
De acordo com a chefe da Assessoria de Diálogo Social da Secretaria de Estado de Governo (Segov), Neila Batista, as pessoas ligadas aos movimentos da economia solidária têm forte presença nas reuniões dos fóruns em todos os territórios. “É o espaço onde elas se aproximam dos órgãos do Estado e das prefeituras e fazem propostas de estímulo ao setor. O apoio às feiras e à divulgação do banco comunitário é um dos resultados desse diálogo”, observa Neila.
Bancos que fomentam pequenos negócios têm feito a diferença (Foto: Taty Gomes/Agência Minas)
Economia local
O Banclisa faz parte da rede brasileira dos bancos comunitários, do programa nacional de Economia Popular Solidária (EPS), executado Minas Gerais em parceria com a Sedese. A instituição é um importante canal de financiamento de projetos que geram renda e fomentam os empreendimentos.
“Quando promovemos as feiras e incentivamos a circulação da moeda social durante esses eventos, estamos também favorecendo o desenvolvimento da economia local”, diz o Subsecretário de Trabalho e Emprego, Antônio Roberto Lambertucci.
O Governo do Estado, junto com os movimentos da EPS, realiza as feiras nos territórios, oferece seminários de formação, acompanha os conselhos de economia solidária, auxilia na criação de pontos fixos (modelo loja) e disponibiliza, nas regionais da Sedese, as barracas de feira livre para uso dos empreendedores. Para 2017 estão previstas 12 feiras regionais e a entrega das barracas nas unidades da Sedese que ainda não receberam.
Adesão à moeda Lisa
Criada em 2012, a moeda social leva o nome ‘Lisa’ em homenagem ao Padre Giovanni Lisa, fundador Associação Aprender Produzir Juntos. Desde então, o dinheiro vem ganhando cada vez mais espaço. De acordo com a APJ, o número de clientes do Banclisa cresceu mais de 80%, de janeiro de 2016 a fevereiro de 2017, em relação ao mesmo período do ano anterior. Hoje, a instituição financeira social possui 260 pessoas cadastradas entre físicas e jurídicas.
A moeda do Banclisa tem valor equivalente ao real. A cédula de papel circula em mais de 15 bairros de Teófilo Otoni e o dinheiro eletrônico em quase toda a cidade. Entre os estabelecimentos comerciais que aceitam o Lisa dos consumidores estão lojas de material de construção, supermercados, padarias, academia de ginástica, revendedoras de gás, bares, restaurantes, sorveterias, salão de beleza e papelaria.
Proposta social
No cadastro do banco comunitário está uma das maiores redes de supermercados da região. Para o gerente Geraldo Alex Jardim, o que chamou a atenção dele foi a proposta social da moeda e a possibilidade de oferecer mais um produto aos clientes.
“Acreditamos no projeto desde o início. A moeda é importante porque tem a função de fortalecer a economia local e ajudar na abertura e desenvolvimento de pequenos negócios numa região tão carente”, afirma Geraldo.
Outro cliente do banco é a papelaria de Wester Deny Rodrigues que aderiu ao Lisa há quatro meses. Ele viu na moeda social uma forma de manter o dinheiro circulando na região onde empresa está localizada. “A pessoa gasta o dinheiro no próprio bairro onde mora e isso é bom para os comerciantes”, observa Wester.
Linhas de crédito
O Banclisa também atua com linhas de crédito. A de consumo, por exemplo, empresta até mil Lisas para que as pessoas possam comprar remédios e alimentos. As linhas produtiva, de construção e cultura disponibilizam de 500 a 3 mil Lisas. Os juros não passam de 1%.
“Nós emprestamos o dinheiro depois de conhecer a pessoa e analisar como o recurso será aplicado. O contato é personalizado, indo à casa ou ao empreendimento. Esse atendimento é mais próximo porque nosso objetivo não é lucrar e sim apoiar”, ressalta Maria Soares.
Cidadão correntista
“Na hora do aperto foi o Lisa que me salvou”, relata a diarista Tereza Cardoso, uma das correntistas do Banclisa. Ela conta que há pouco tempo fez um empréstimo de R$ 600,00 para pagar contas atrasadas, comprar remédios e gás de cozinha.
Dona Tereza, mais conhecida como “Dega”, comenta que, além da taxa de juro menor, o banco comunitário é mais acessível do que os privados. “No Banclisa, eles têm confiança na gente. Mesmo pra gente que ganha pouco, a abertura da conta é rápida e o dinheiro sai na hora” afirma a diarista, que já quitou o empréstimo.
Maria do Socorro Alves é uma das beneficiadas do banco (Foto: Taty Gomes/Agência Minas)
Empreendedor
A artesã Maria do Socorro Alves é uma empreendedora da economia popular solidária. Ela e os filhos fazem artesanato em pedras, couro, fibras, bordados e bijouterias.
No ano passado, a artesã recorreu ao crédito produtivo do Banclisa para incrementar seu pequeno negócio. Com o empréstimo de R$ 2 mil, Maria do Socorro comprou matéria prima para a confecção das mercadorias e das embalagens.
O capital pode parecer pouco, mas fez diferença para o empreendimento. Maria do Socorro conta que com o dinheiro conseguiu produzir mais mercadorias para levar para as feiras, expandir as vendas.
“Esse crédito nos deu condições de participar de várias feiras regionais, nacionais e internacionais. Nosso trabalho foi até destaque em dois catálogos do Sebrae”, disse a artesã, destacando as facilidades da linha de crédito para os pequenos e micro negócios.
E-dinheiro
O dinheiro eletrônico tem tornado o Lisa mais conhecido. A ferramenta, feita especificamente para os bancos comunitários, é aceita em 90% dos estados brasileiros.
O e-dinheiro funciona por um aplicativo de celular ou por SMS, sem restrição de operadora. Qualquer consumidor pode utilizar o sistema, desde que abra uma conta no banco comunitário e deposite certa quantia para efetuar as compras.
Expansão
A experiência do banco comunitário de Teófilo Otoni é uma referência em Minas Gerais que poderá ser adotada por outras regiões de Minas. Segundo a Sedese, entre as metas do Plano Estadual de Desenvolvimento da Economia Popular e Solidária, está a expansão das instituições financeiras sociais no Estado. Já seguem modelo parecido, os municípios de Esmeraldas, no Território Metropolitano, e Chapada Gaúcha, Território Norte.
Serviço
Banclisa
Av. João XXIII, 531 – bairro Teófilo Rocha – Teófilo Otoni/MG
Telefone: (33) 3522.80.15; (33) 9 8718.48.03
Email: [email protected]
Banco Esmeraldas
Rua Antonio Fernandes, 94 – Tijuco – Esmeraldas/MG
(http://bancoesmeralda.weebly.com/ )
Banco Chapadense:
Rua Idearte Alves de Souza,500 A – Chapada Gaúcha/MG
Telefone: (38) 3634-1469
(https://www.facebook.com/bancocchapadense/)