Segundo Aluizer Malab, presidente da Belotur, este prognóstico leva em conta o impacto da crise econômica, que deve inverter o sentido do fluxo de foliões que antes iam para outros municípios de Minas Gerais. “Nós vamos receber turistas de outros estados e também de outros países. Mas este ano, acho que teremos um grande incremento das cidades mineiras que cancelaram seus carnavais por dificuldades financeiras”.

Conforme dados da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), serão 416 desfiles organizados pelos 350 blocos cadastrados. Um aumento de 30% em relação à 2016. Com todos estes números, a expectativa é que a cidade aumente significativamente a receita turística direta. No ano passado, foram movimentados R$ 54,7 milhões.

O crescimento do carnaval de Belo Horizonte deve contribuir também para que Minas Gerais fique entre os três estados com maior receita no período, atrás de Rio de Janeiro e São Paulo e superando a Bahia. De acordo com um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as cidades mineiras devem ter faturamento de R$ 332,4 milhões durante a folia nos segmentos de hospedagem, alimentação e transporte.

Este cenário dificilmente se concretizaria sem a expansão do carnaval de Belo Horizonte. Se até anos atrás as festas no estado se concentravam em municípios do interior, com destaque para as cidades históricas, agora é na capital que as ruas recebem mais foliões.

O pontapé inicial da folia aconteceu hoje (11/02/2017). A programação completa, que vai até o dia 1º de março de 2017, pode ser consultada em uma página da prefeitura ou por meio de um aplicativo que traz a agenda e os percursos dos blocos.

Mobilização

Para chegar ao maior carnaval de sua história, Belo Horizonte contou com a mobilização de movimentos de ocupação do espaço público. Estes grupos, formados majoritariamente por artistas e estudantes, começaram a se organizar em 2009 para criar formas lúdicas de contestar medidas restritivas do poder público, em especial um decreto da prefeitura que proibia eventos na Praça da Estação, no centro da cidade. Pouco a pouco, os blocos foram surgindo e começaram a ampliar as pautas, discutindo temas como a tarifa zero nos ônibus, o déficit habitacional e o combate ao preconceito racial, ao machismo e à homofobia.

A trajetória recente do carnaval de Belo Horizonte é motivo de orgulho para muitos participantes. Por esta razão, o folião Lucas Buzatti, que integra a bateria de 14 blocos, decidiu publicar nas redes sociais uma lista de recomendações para quem pretende conhecer a folia da capital mineira. Entre sugestões como hidratar os músicos e participar dos ensaios, ele defende também a importância de conhecer a história. “Para quem está começando agora a pular esse carnaval de rua e de luta, é importante entender a origem do fenômeno e seus componentes políticos, sociais e culturais”.

O folião Thales Machado valoriza a história do carnaval de Belo Horizonte, mas acha que é preciso tomar cuidado com essa cobrança. “Se é pra entender contexto eu vou pra biblioteca e não para o bloco. Conhecer a história é legal, mas quem não se interessa não é menos preparado para curtir o carnaval. Podemos respeitar o coleguinha que só quer tomar uma cerveja e não está nem aí para a revolução. A festa também é do caos, do chato, do sem noção”.

Poder público

Em um carnaval que surge a partir da contestação a iniciativas do poder público, a relação entre os blocos e a prefeitura de Belo Horizonte começou conflituosa. Críticos da imposição de regras e defensores de manifestações culturais com menos amarras, os organizadores dos blocos se colocaram nos primeiros anos relutantes em aderir ao cadastro organizado pela Belotur.

“Nunca nos furtamos ao diálogo, mas o objetivo da prefeitura no início era impor dificuldades. Eram proibições, medidas que dificultavam a logística, até intimidação através do aparato da Polícia Militar. Posteriormente, quando ela [a prefeitura] vê que é irreversível, começa a disputar a autoria do ressurgimento dos blocos de rua”, diz o folião Guto Borges, integrante de diversos blocos, incluindo o Tico Tico Serra Copo, um dos pioneiros deste carnaval recente.

O aumento no tamanho da festa cria novas realidades. Para Rodrigo Picolé, regente do bloco Tchanzinho Zona Norte, o cadastro acaba se tornando inevitável. “O crescimento vai te conduzindo para este caminho, porque vão se criando entraves legais para a saída dos blocos. Nós precisamos de estrutura de banheiro e serviço de limpeza, por exemplo. E com o público que temos hoje, isso sai caro e não temos o dinheiro. Então o poder público entra”, diz.

De acordo com a Belotur, poucos blocos optaram por se manter fora da programação oficial. “Nós sabemos que os blocos surgiram com certa resistência ao poder público e tem essa origem politizada. Mas com o crescimento do evento e com o diálogo, foi havendo mais entendimento. Esse cadastro e essa organização beneficiam a todos. Os que ainda resistem são poucos. E mesmo eles, a gente tem mapeado”, diz Aluizer Malab, presidente da Belotur.

A prefeitura também utilizou o cadastro para uma novidade. A publicação de um edital de patrocínio para os blocos. Cinquenta serão contemplados e vão receber valores entre R$ 3 mil e R$ 10 mil. Os recursos poderão ser usados para sonorização e contratação de artistas. O resultado do edital deve ser divulgado na terça-feira (14). “Temos blocos com um volume muito grande de foliões e ampliar o alcance do som melhora bastante a qualidade dos desfiles”, diz Aluizer Malab, presidente da Belotur.

Se os blocos e o poder público conseguiram estabelecer um diálogo, os obstáculos continuam existindo para a iniciativa privada. Em acordo com a prefeitura, a Ambev se tornou patrocinadora do carnaval de Belo Horizonte e a Skol foi definida como cerveja oficial da folia na cidade. Porém, a empresa tem encontrado dificuldades para fechar patrocínios diretamente com os blocos. Nem mesmo a oferta de alugar carro de som, uma das principais dificuldades dos grupos, tem seduzido alguns foliões.

“Há blocos que estão aceitando. Nós preferimos buscar outros caminhos e manter nossa autonomia”, conta Rodrigo Picolé. Seu bloco, o Tchanzinho Zona Norte, realizou uma campanha de financiamento coletivo em conjunto com outros quatro: Juventude Bronzeada, Então Brilha, Havaianas Usadas e Garotas Solteiras. Com o recurso levantado eles pretendem alugar e compartilhar um carro de som ao longo do carnaval.

Além dos blocos

Os blocos não são a única atração do carnaval de Belo Horizonte. A prefeitura também vai instalar quatro palcos na cidade. As estruturas serão montadas na Praça da Estação, na Avenida Brasil e na Rua Guaicurus. O quarto palco será colocado no Parque Municipal, onde acontecerá o “carnavalzinho”. O evento será voltado para as crianças no sábado, dia 25 de fevereiro.

O tradicional Concurso de Marchinhas Mestre Jonas, organizado pela produtora Cria Cultura, faz sua final hoje (11). O evento, que concede um prêmio de R$ 6 mil ao vencedor, consagrou nos últimos anos composições que fazem paródia de acontecimentos da vida social e política nacional, como as clássicas Imagina na Copa de 2013 e O Baile do Pó Royal de 2014. No ano passado, a vencedora foi Não Enche o Saco do Chico, que remetia a um episódio em que o músico Chico Buarque foi hostilizado por suas posições políticas.

Já os desfiles de escolas de samba acontecerão na Avenida Afonso Pena, onde será instalada uma arquibancada com capacidade para 2 mil pessoas. A primeira vez que agremiações de Belo Horizonte se apresentaram de forma semelhante ao que acontece hoje, guiadas por samba-enredo, foi em 1956. Nos anos que antecederam o ressurgimento dos blocos de rua, em 2009, elas eram a principal atração de um carnaval tímido e de pouco público. Sete escolas de samba do Grupo Especial desfilam na terça-feira, dia 28 de fevereiro. As três melhores na avaliação do júri receberão prêmios de R$50 mil, R$25 mil e R$12,5 mil.

No dia anterior, segunda-feira (27), será a vez dos tradicionais blocos caricatos, característicos do carnaval de Belo Horizonte. Eles se tornaram uma categoria de desfile na década de 1950, mas sua origem ainda não é totalmente conhecida dos historiadores. Entre algumas hipóteses, eles podem ter influência dos carros alegóricos que partiam dos clubes e sociedades no início do século 20 ou do corso (desfiles em carros comuns), que existia desde a fundação da cidade, em 1897.

No corso, famílias desfilavam fantasiadas em seus carros particulares, numa época em que os veículos eram mais abertos e as pessoas conseguiam ficar de pé nas laterais. Nos blocos caricatos, a bateria vai em cima de um caminhão. Na edição deste ano, nove deles disputam prêmios de R$ 25 mil, R$ 12,5 mil e R$ 6,25 mil.

Aplicativo com programação do carnaval

aplicativo oficial do carnaval de Belo Horizonte deste ano já está disponível para download. Ele poderá ser instalado em celulares e dispositivos móveis, tanto em sistema Andoid como em iOS. Através dele, é possível consultar os horários e locais de blocos, shows e desfiles de escolas de samba.

A ferramenta também possui GPS, que permitirá ao folião consultar quais os blocos mais próximos de sua localização. Será possível eleger os blocos favoritos e organizar um roteiro. “A ideia do aplicativo é dar uma cara tanto de serviço, como de divulgação, aproveitando todo o sistema de georreferenciamento criado pela Prefeitura para monitoramento do carnaval”, afirma Marah Costa, diretora de Economia Criativa da Belotur.

As atrações também podem ser consultadas em uma página da prefeitura criada para o evento. O aplicativo foi desenvolvido pela Belotur e pela Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte (Prodabel). Além da programação completa, ele traz informações sobre bares, restaurantes, postos de saúde, pontos gratuitos de wifi, vias interditadas, localização de banheiros químicos e telefones úteis como o da Guarda Municipal, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros.