Municípios no Vale do Jequitinhonha estão investindo em aplicativos para estimular visita a cidades mineiras
Depois de um carnaval abaixo das expectativas, de uma Semana Santa com reduções drásticas nas taxas de ocupações e de outros meses sufocantes para o turismo, cidades mineiras estão apostando na modernidade na tentativa de reverter os prejuízos trazidos pela crise econômica.
Municípios como Diamantina, no Vale do Jequitinhonha; Tiradentes, na Região Central; São Tomé das Letras, no Sul de Minas e até o pequeno vilarejo de Lavras Novas, distrito de Ouro Preto, estão investindo em aplicativos de celulares que servem como guias turísticos para quem visita esses locais e servem de esperança para melhorar, em 2017, a economia local.
Desenvolvidas por empresas, cidadãos ou até mesmo pelos órgãos públicos, as plataformas trazem informações sobre cachoeiras, restaurantes, pousadas, entre outras, e são um serviço de guia completo. Em Lavras Novas, que está a 117 quilômetros de Belo Horizonte, a iniciativa veio da moradora e fotógrafa Luciana Pautilla, de 30 anos. O pacato vilarejo, que foi descoberto ao longo dos anos no “boca a boca”, sofreu uma redução de cerca de 40% no movimento este ano por causa da crise econômica. Luciana Pautilla, que morou em São Paulo e na Argentina, voltou a Lavras Novas e, em busca de uma oportunidade de trabalho para a sua área, começou a divulgar o local nas redes sociais.
“Quando voltei para cá, arrendei uma pousada e não tinha muito o que fazer na minha área. Comecei a criar páginas no Instagram e Facebook sobre aqui. Foi uma repercussão grande e, em pouco tempo, consegui 20 mil seguidores”, conta. Foi aí que a fotógrafa decidiu dar um passo maior. Procurou uma empresa que desenvolve aplicativos em BH e criou o Lavras Novas, que com cinco meses de funcionamento já conta com 3 mil downloads feitos por pessoas do Brasil e do resto do mundo. “Havia um site sobre as atrações turísticas daqui, mas estava muito desatualizado. Com o aplicativo, as pessoas têm um guia nas mãos.”
Para que tenha retorno financeiro com a iniciativa, Luciana Pautilla cobra até R$ 30 por anunciante. “Para o visitante que baixar o aplicativo, que é gratuito para o usuário, há descontos nos estabelecimentos. Há dicas de passeios, como chegar em cachoeiras, restaurantes e pousadas”, diz. Ela conta que, a princípio, convencer os nativos do comércio no local não foi fácil. “As pessoas do interior ficam um pouco ‘cabreiras’ com o tal ‘certo pelo duvidoso’. Então, comecei a oferecer o serviço para os donos de pousadas que vieram de fora. Aí começou a ter uma procura boa e os nativos viram que valia a pena”, afirma.
O grande trunfo, segundo ela, principalmente para a economia local, é que a plataforma permite divulgar ao visitante locais pouco conhecidos, como restaurantes caseiros. “Além disso, muita gente não sabia, por exemplo, que havia delivery de sanduíche aqui. Com o Lavras Novas, estão descobrindo”, orgulha-se.
Essa descoberta é também aposta de Diamantina. Em 1º de dezembro, a cidade lançou oficialmente o seu aplicativo Viva Diamantina. Feito em parceria com o Sebrae e uma empresa especializada na tecnologia, a plataforma é de responsabilidade da prefeitura, que desembolsou nela cerca de R$ 2 mil. Segundo a diretora de Turismo de Diamantina, Mariana Costa Zaidan, por enquanto, a plataforma está na versão básica e, nos próximos dias, estará pronta.
“Estamos montando uma força tarefa para que os erros sejam corrigidos e os distritos de Diamantina sejam incluídos”, revela. Uma das vantagens, segundo Mariana Zaidan, é a informação de qualidade para o turista, como horários de abertura dos patrimônios religiosos da cidade.
Boa iniciativa
A iniciativa de desenvolver aplicativos para estimular o turismo em cidades mineiras é vista como positiva pela presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais, Patrícia Coutinho. “É uma ótima sinalização para o setor”, afirma.
Quem viaja por Minas sabe que, muitas vezes, chegar a uma cachoeira é uma espécie de caça tesouro, o que na maioria das vezes pode se tornar perigoso para quem não conhece as trilhas. Pensando nessas rotas e nas outras atrações que uma cidade do interior tem, os aplicativos que estão sendo lançados usam GPS para guiar visitantes a áreas de difícil acesso, como são as de quedas d’água.
Esse foi um dos motivadores dos empresários Rafael Cipriani da Cruz e Pedro Henrique Mendonça. Eles criaram um aplicativo, lançado em abril, com 30 cidades que fazem parte da Estrada Real em Minas e fora do estado. Com o nome Cachoeiras Estrada Real, o programa é um guia para locais como São João Del-rei, Tiradentes, Ouro Preto, Aiuruoca, São Tomé das Letras, entre outras. “A ideia surgiu há uns dois ou três anos, quando trabalhávamos com ecoturismo em Tiradentes. Vimos que as pessoas não tinham informações sobre os pontos turísticos, não sabiam sobre nível de dificuldades em determinadas trilhas ou quais seriam os atrativos naturais”, conta Cipriani.
Formado em Tecnologia da Informação, ele e Pedro resolveram, então, investir nesse trabalho e estão fazendo guias completos para esses locais. Para as rotas das cachoeiras, por exemplo, há o sistema de GPS que pode ser acessado até off-line.
Em oito meses, o aplicativo já teve 50 mil downloads feitos de todo o país e de outras localidades do mundo. “Estamos focado na geração de conteúdo. Fizemos, para esse aplicativo, filmes com drone e fotos de alta resolução”, destaca Cipriani. Apesar do esforço para divulgar as muitas cidades que fazem parte do Estrada Real, os idealizadores do aplicativo dizem não ter tido retorno financeiro. No princípio, houve parceira com algumas prefeituras, mas, agora, não há. “Estamos procurando um patrocínio para veicular a marca do projeto. Temos muitas ideias para aprimorar cada vez mais o programa. Em breve, vamos implantar fotos de 360 graus. Além disso, Mariana vai entrar na lista das cidades divulgadas”, antecipa.