As técnicas utilizadas pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) nos salvamentos em desastres estão sendo disseminadas em todo o país, tornando o estado referência no atendimento a este tipo de ocorrência.

Além de já ter sido ministrado para corporações em outros estados, como Sergipe e Rio de Janeiro, o Curso de Soterramento Enchentes e Inundações (CSSEI), desenvolvido pela corporação, foi incorporado ao Treinamento de Resposta a Desastres Urbanos da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) e será empregado pelos militares durante missões em todo o país.

O CSSEI está sendo ministrado para bombeiros militares de vários estados integrantes da FNSP e coordenado pelo CBMMG, por meio do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad), voltado para o atendimento a situações de alta complexidade.

Uma barragem no município de Itutinga, a cerca de 270 Km de Belo Horizonte, foi o local escolhido para o curso devido às condições serem similares a uma situação real, com corredeiras e correnteza muito parecidas com as encontradas em enchentes e inundações. As condições permitem que sejam simuladas diversas ocorrências, como salvamento de pessoas ilhadas, retirada de vítimas de correntezas, dentre outras.

De acordo com o comandante da Companhia de Busca e Salvamento do Bemad e coordenador do curso, tenente Leonard Farah, a capacitação específica para os "FN", como são conhecidos os integrantes, partiu de um convite feito pelo próprio órgão. A parceria consolida um marco importante para a corporação mineira.

"Assim como São Paulo é referência no tema incêndio urbano, essa atividade faz com que Minas Gerais torne-se referência no país no atendimento que envolva desastres", avalia o tenente Farah.

Para o coordenador da atividade pela FNSP, major do Corpo de Bombeiros do Estado do Tocantins, Lindomar Carlos, a necessidade de especialização do Batalhão de Busca e Salvamento faz com que sejam feitas parcerias com os estados. "Minas Gerais foi o que ofereceu melhor currículo e que atendeu às necessidades que a Força Nacional precisa neste momento", diz.

O treinamento é dividido em dois módulos. O primeiro deles - de salvamento em enchentes e inundações – foi concluído no último dia 15. A segunda etapa, gestão de desastres e intervenção em áreas de risco, já começou e termina no próximo dia 30 também coordenada pela Companhia de Busca e Salvamento, no Gama, cidade satélite de Brasília, onde está localizada a base da Força Nacional.

Um dos diferenciais do curso é a metodologia baseada em doutrinas internacionais de resposta a desastres, elaboradas com a consultoria da Insarag (International Search and Rescue Advisory Group). A rede global envolve mais de 80 países e organizações sob o controle da Organização das Nações Unidas para coordenar ações de busca e salvamento em grandes catástrofes. Os grupos com a certificação Insarag são os primeiros a intervir nessas situações.

Mas a parceria entre o CBMMG não é uma novidade. Desde 2011, a expertise dos militares de Minas Gerais vem sendo compartilhada com a Força Nacional por meio de instruções de curta duração, nas matérias de soterramento, salvamento em altura e enchentes.

Além de multiplicar conhecimentos para outros estados, o CBMMG será responsável, ainda, pela revisão da grade curricular do curso de nivelamento, pré-requisito inicial para que o militar FN possa assumir missões quando a tropa for demandada em todo o Brasil.

Superação

A turma que está sendo treinada é formada por bombeiros dos estados do Tocantins, Maranhão, Rio de Janeiro, Amapá, Rio Grande do Norte, Roraima, Pará, Pernambuco, Sergipe, Amazonas, Goiás, Paraíba, Rio Grande do Sul, Bahia, Ceará, Mato Grosso e Alagoas.

Durante os módulos, os militares permanecem acampados, com o objetivo de desenvolver a doutrina de uma equipe de resposta a desastres ou força-tarefa, não dependendo de instalações físicas dos municípios onde irão atuar.

O grupo também realiza diversas atividades que testam a operacionalidade, força e resistência de cada militar. Testes que exigem dedicação, persistência e superação de limites, que nem todos conseguem ultrapassar. Dos 60 alunos iniciais, 43 concluíram o primeiro módulo do curso, um deles, a Capitão do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Tocantins, Daniela Tavares, única mulher da turma.

Com 10 anos de carreira, ela está dois anos na Força Nacional. Quando retornar ao seu Estado, a oficial levará no currículo, mais uma capacitação de "alto nível" segundo ela mesma define.

"Está sendo uma experiência incrível. No curso passamos por operações que simulam o salvamento real, com exposição a riscos reais", afirma a militar que faz questão de reforçar que não há diferença alguma no treinamento ministrado aos colegas do sexo masculino. "Os exercícios e salvamentos são os mesmos. Até porque em uma situação real a vítima precisará de ajuda, qual seja o sexo do resgatista", reafirma.

Força Nacional

A Força Nacional de Segurança Pública foi criada há dez anos pelo Governo Federal e é composta por bombeiros militares, policiais militares e civis, além de peritos que são selecionados em corporações de todo o país para servirem por período determinado no órgão. Sua atuação atende às necessidades emergenciais dos estados por meio de uma solicitação dos governadores.