Corpos são encontrados em distrito atingido por tromba d'água
Duas mulheres, de 64 e 46 anos, ainda são procuradas pelos bombeiros. 42 casas foram destruídas e 127 estão desabrigados em Nicolândia, MG.
Um cenário de desolação é visto em Nicolândia, distrito que fica a cerca de 50 km de Resplendor. Casas desabadas e entulhos nas ruas são o resultado de uma tromba d'água que atingiu o local na noite da última sexta-feira (18), quando cinco pessoas desapareceram na enxurrada que tomou conta do local. Até a tarde deste domingo (20), três corpos já haviam sido encontrados. Duas mulheres, de 64 e 46 anos, permanecem desaparecidas.
“A primeira ação foi de busca das pessoas dadas como desaparecidas; cinco pessoas, e até o momento foram encontrados três corpos, dois permanecem desaparecidos. Nós iniciamos as buscas nas casas e na área próxima. Foi um trabalho lento, onde a gente foi tirando os escombros, a estrutura colapsada da casa, tivemos que retirar isso aqui para saber se acessava o corpo em algum lugar do imóvel. Assim que a gente zerou as buscas nas casas, aí foi dado sequência ao longo do leito do rio”, informa o comandante do 6º Batalhão do Corpo de Bombeiros, Major Fernando Augusto.
carregado pelas águas (Foto: Zana Ferreira/G1)
A dona de casa, Maria de Lourdes Damasceno, é filha de uma das vítimas da tragédia. Ela estava na casa que morava com o pai, o aposentado Hildo Damasceno, de 73 anos, quando a água arrastou os dois para fora de casa.
“Foi muito rápido, eu estava preparando para dormir quando a água veio. Estava com o meu pai, que foi carregado pela água ainda na cama, deitado do colchão. Eu tentei salvá-lo, mas não consegui. Estava no meio do córrego, quando consegui agarrar numa árvore e sair do rio, mas meu pai tinha a saúde muito debilitada, ele não conseguiu”, recorda Maria de Lourdes.
Hernanda Gomes também perdeu o pai, Hermindo Gomes, de 64 anos, na enxurrada. Ela mora em uma cidade vizinha e veio para Nicolândia neste sábado para ajudar nas buscas. A madrastra dela, esposa de Hermindo, ainda permanece desaparecida.
“Fiquei sabendo pela internet, às três da manhã. Levantei e meu esposo me trouxe aqui, nem esperei o dia amanhecer, e lá em casa também tava cheio de água. Eu estou triste porque ainda não liberaram o corpo do meu pai, mas falaram que vai liberar, taí desde sexta que ele faleceu. Estou preocupada ainda com a minha madrasta, que está desaparecida, e com o outro casal que desapareceu, que eram amigos nossos”, desabafa Hernanda.
Além dos três mortos e dos dois desaparecidos, o distrito sofreu grandes perdas materiais. Segundo a Defesa Civil, 73 casas foram atingidas pela tromba d´água, deixando 152 pessoas desalojadas; outras 42 casas foram totalmente destruídas, resultando em 127 pessoas desabrigadas, no distrito de aproximadamente 1.600 pessoas.
O aposentado Antônio José Marle, de 68 anos, mora em Resplendor, mas tem uma casa em Nicolândia, que era o seu sonho de uma aposentadoria tranquila. Na manhã deste domingo ele chegou para conferir os danos: “Eu perdi, não vou dizer que perdi tudo, mas perdi muito. Tava reformando para ficar mais tranquilo. No mesmo dia eu fiquei sabendo, mas ontem tava muito danificado e decidi esperar. Estou chegando agora. Esse sonho continua, vamos reconstruir tudo”.
A Defesa Civil já atua junto com o município de Resplendor na elaboração de decreto para facilitar as obras de limpeza e posterior reconstrução da cidade. Segundo o diretor de emergência, tenente Sandro Brágio, a decisão sobre um decreto de situação de emergência ou de calamidade pública depende da avaliação dos danos no local.
“As primeiras medidas foram de ajuda humanitária, a partir de agora começa a reconstrução do distrito, lavagem de ruas, limpeza das casas. Estamos providenciando o decreto para posteriormente para o Estado homologar e enviar para a União reconhecer. Em posse disso, o município terá alguns benefícios que a decretação oferece, tais como recursos financeiros e poder realizar compras sem certas regras de licitação”, conclui o tenente.