A operação, desencadeada em abril deste ano, aponta que os vereadores da cidade recebiam vantagens para aprovar projetos que favoreciam um esquema de fraude em licitação; 13 foram afastados dos cargos, e oito, além do afastamento, foram presos.

Em junho deste ano, o ex-diretor de Recursos Humanos do SAAE, Jefferson Santos Lima, afastado durante a 1ª fase da operação Mar de Lama, também fez delação premiada junto ao Ministério Público.

A delação de Vilmar Rios foi homologada na Justiça na sexta-feira (12/08). O documento de 33 páginas contém, nas seis primeiras folhas, uma tabela contendo os nomes e as datas de entrada e saída de valores pagos ou recebidos de empresas, vereadores e agentes públicos.

De acordo com a delação, Vilmar assumiu que, antes de ser preso na 1ª fase da operação Mar de Lama, engoliu um papel com uma relação de credores que deveriam ser pagos com os recursos de propinas pagas pelas empresas que possuíam contratos com o SAAE.

Vilmar afirmou também na delação, que logo após ter assumido o cargo, teve conhecimento, através de dois ex-secretários do município, que todos os contratos da secretaria de obras já estariam comprometidos com propinas, exceto o contrato do Estradão da Penha, e que este poderia ser reavaliado.

Também foram citados no documento, com valores a receber, os nomes do atual Secretário Municipal de Planejamento, Wellington Moreira Azevedo, e a prefeita Elisa Costa (PT), mas Vilmar não soube dizer a origem das dívidas.

O delator apenas citou que em conversa com o ex-diretor geral do SAAE, Omir Quintino, eles falaram a respeito de empréstimos tomados em função de gastos de campanha eleitoral.

Empresas

Treze empresas que têm contrato com o Serviço Autônomo de Água e Esgoto são citadas na delação; Velp, Xpec, MTR, Restaurante Sabor da Praça, Vieira Prado, BJ Manutenção, RH Assessoria, Pão Express, Confiare, Consval, Vetorial, Prefisan e Minas Tec. A maioria, segundo Vilmar, pagava propina para conseguir contrato com a autarquia.

Em um dos trechos da delação, o ex-diretor adjunto do Saae afirma que o empresário Paulo Guimarães, da empresa Xpec, reclamou com Omir sobre uma licitação, dizendo que a empresa Fejoli teria ganhado uma licitação que estava para ele ganhar por ter apresentado um valor muito baixo. Segundo o documento, Omir teria dito que ia resolver o problema.

Dois órgãos de imprensa são citados na delação de Vilmar Rios. O jornal Figueira do Rio Doce e dois ex-colaboradores da empresa TV Leste, afiliada da Record na região. Ambos, na versão do delator, recebiam para fazer reportagens a favor da Prefeitura de Governador Valadares.

Segundo o delator, a cada R$ 300 mil efetivamente pagos em contratos, cerca de R$ 25 mil retornavam para a realização de pagamentos indevidos. Os valores pagos pela empresa Xpec eram incluídos no montante repartido entre vereadores e agentes públicos.

Outros vereadores

Na delação, Vilmar também cita dois vereadores que até então não tinham aparecido nas sete fases deflagradas pela Polícia Federal. O presidente interino da câmara, Pedro da Utilar (PSD), e a Pastora Eliane de Paiva (DEM).

A propina que os vereadores recebiam, segundo Vilmar, variava entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. Já o parlamentar e ex-apresentador de televisão Ricardo Assunção, citado nas outras fases da operação, recebia outros R$ 23 mil em propina. Valor que segundo o delator era repassado para o diretor da emissora TV Leste, Antônio Mário de Oliveira, para manter cinco ou seis programas falando bem da administração pública municipal.

Vilmar Rios também falou da participação do ex-secretário de Serviços Urbanos do Município, Marco Rios, no esquema. Segundo Vilmar, Marco ficava com R$ 4 mil por mês referente à propina paga pela empresa valadarense.

O motivo de pagamento da propina seria favorecer a valadarense em projetos de lei que seriam votados na Câmara Municipal. Vilmar termina este trecho da delação dizendo que o próximo repasse de propina feito pela empresa de transporte seria no dia 20 de abril. Ainda de acordo com o documento, o pagamento só não aconteceu por causa da deflagração da operação Mar de Lama nove dias antes.

O que dizem os citados

O G1 procurou os representantes das empresas Xpec, Padaria Pão Express, Restaurante Sabor da Praça, BJ Manutenções e Prefisan mas ninguém atendeu as ligações. Já o dono da Consval informou que cabe ao Vilmar Rios conseguir provar o que ele disse na delação.

A empresa Minastec disse que só vai se pronunciar oficialmente depois que tiver acesso ao documento. O responsável da empresa MRT não foi encontrado. Na Vetorial a informação também foi de que os responsáveis não estavam.

Em nota, a Velp negou que recebia recursos indevidos do SAAE. Informou ainda que sempre foi desprestigiada em contratos e que ainda teve que ameaçar paralisar os trabalhos para conseguir receber uma dívida da autarquia.

O advogado de Marcos Rios disse que ele aguarda ser intimado oficialmente sobre o assunto delatado pelo Vilmar Rios para se pronunciar.

Em nota, a prefeita Elisa Costa afirmou que a delação de Vilmar reproduz fatos inverídicos, e disse ainda que repudia com ‘veemência e indignação’ as afirmações de Vilmar. “Não participei, nem fui beneficiária de qualquer ato de corrupção, como, irresponsavelmente, foi veiculado na reportagem, e, tampouco, cometi qualquer ilícito. Não sou investigada na operação em curso, como, por diversas vezes, já foi afirmado pelas próprias autoridades da Polícia Federal e Ministério Público que estão à frente do caso”, diz a nota.

A TV Leste, informou também em nota que nenhuma das pessoas citadas na delação fazem mais parte do quadro de colaboradores da empresa. Sendo assim, a emissora não tem responsabilidade sobre qualquer atitude ilícita tomada pelos envolvidos nas investigações policiais.

“O depoimento do Sr. Vilmar Rios, (vulgo Juninho Tabajara) é bem claro quando ele diz que o dinheiro desviado era dividido entre o vereador Ricardo Assunção e o administrador (formação profissional) Antônio Mário de Oliveira, ou seja, a TV Leste, em momento algum é citada como beneficiada”. A empresa também afirma que se sentiu diversas vezes lesada e descartada das licitações e contratos de publicidade.

Também em nota, a empresa Valadarense diz que “lamenta vazamento seletivo e ilegal de documentos protegidos por sigilo. Reafirma que no momento próprio e no curso do processo judicial exercerá o seu direito ao contraditório”.

Por telefone, a Pastora Eliane de Paiva (DEM) disse que as informações citadas pelo delator não são verdadeiras. Esclareceu ainda que nunca recebeu propina e que o nome dela não foi citado na Operação Mar de Lama.

(Fonte: G1 Vales de Minas Gerais)