Um corpo  em decomposição dentro de um caixão  abandonado entre túmulos,  e ossada humana  exposta ao público, além de muita sujeira e mato, é o retrato do descaso e abandono a que foi relegado o cemitério municipal de Araçuai, no Vale do Jequitinhonha.

O caso chegou  ao conhecimento do Ministério Público na tarde desta quinta-feira, 7 de julho, pelas mãos da farmacêutica Liliana Rocha Costa, que está indignada com o desrespeito aos mortos e aos seus familiares, por parte da administração municipal.

O caixão, bastante danificado e  com um corpo dentro, foi abandonado entre  túmulos de filhos ilustres de Araçuai.

Ao lado  do túmulo,  onde foi deixado o caixão,  estão sepultados os corpos do advogado Dalmo da Cunha  Melo,  o pai dele, Asdrúbal da Cunha Melo e Nahyda Pereira Matos Paixão, filha do professor e escritor Leopoldo Pereira e irmã de Caio Mario da Silva Pereira,  já falecido e considerado o maior civilista do país, com obras adotadas em praticamente todos as faculdades de Direito brasileiras.

Revoltada com o quadro que se parece com o de um filme de terror, a farmacêutica  registrou há duas semanas uma ocorrência na Polícia Militar que foi encaminhada para a Delegacia de Polícia Civil.

Na tarde de quarta-feira (6) ela retornou ao cemitério e ficou mais indignada ao perceber que nenhuma providência havia sido tomada.

“ Não existe nenhuma preocupação com a limpeza e segurança do lugar. O túmulo do meu pai foi danificado poucos dias depois que instalamos uma lápide de mármore. O que se vê por aqui, é muita sujeira, descaso, abandono e  desrespeito. É um absurdo e revoltante ver um caixão com um corpo dentro, abandonado desta forma ”, desabafou a farmacêutica que decidiu denunciar o caso à Promotoria Pública.

Procurado, o delegado Cristiano Castelucci informou que estava retornando de férias e que não tinha conhecimento da ocorrência.

“ Vou averiguar os fatos e analisar se existe algum ilícito penal e ver quais medidas administrativas poderão ser tomadas contra a administração municipal, responsável pelo cemitério”, disse o policial.

O encarregado pela administração do cemitério, Salvador Siqueira, disse que também não tinha conhecimento do fato e que na próxima segunda-feira, 11 de julho,  irá  pessoalmente ao local.

Há pelo menos 15 anos, foi inaugurado um novo cemitério municipal no bairro Canoeiro. “ Mesmo assim, muitas famílias insistem em realizar sepultamentos no cemitério antigo”, afirma Siqueira.

Ele  disse que o local passa por limpeza periódica, principalmente no Dia de Finados, mas não possui vigias nem funcionários para zelar pelo lugar. “ Vândalos entram por lá, à noite,  para uso de drogas e até prática de sexo. Acredito que possam ter desenterrado este cadáver e deixado à mostra”, acredita o administrador.

No antigo  cemitério municipal existem outros túmulos que também estão danificados e sem identificação. Em um deles, é possível ver ossos como tíbia e costelas humanas. O caso já foi denunciado há dois anos,  em reportagem do Jornal Gazeta, mas nenhuma providência foi tomada.

" Nesta época, quando fui visitar o túmulo do meu pai, fiquei surpreso ao ver dois crânios insepultos próximo ao jazigo dele", lembrou o engenheiro e professor Josias Gomes Ribeiro.

Quem possui um jazigo em um cemitério público tem a responsabilidade de zelar pelo túmulo, já que é uma concessão pública, diz a lei.

“Muitos túmulos que estão danificados, não possuem placas e por isso fica difícil identificar familiares. Entra administração e sai administração e o abandono continua o mesmo”, lamentou  Salvador Silveira.