Megamanifestação de movimentos sociais tem participação de jovens do Jequitinhonha
No dia 31 de julho, nós, os movimentos sociais organizados, entidades e comunidades da internet faremos uma nova megamanifestação
Muitos de vocês que estão sempre conectados às redes sociais já sabem: voltaremos às ruas! Daqui a um mês, para coincidir com a conclusão do processo de impeachment. Pois acompanho ano a ano a capacidade de mobilização da sociedade civil organizada e só tenho a afirmar que estamos indo bem melhor do que nossos governantes. Estaduais, locais ou federais, nossos políticos estão sempre a reboque dos milhões de cidadãos e cidadãs que têm ido às ruas nos últimos anos. Seja porque estão se deparando com a iminente falência geral do Estado, que eles mesmos promoveram, seja porque estão sempre ocupados em se defender do bombardeio das delações premiadas de ex-asseclas, o fato é que não governam. Tão simplesmente isto: não governam! E o país segue à deriva.
Voltaremos às ruas porque está claro que a Operação Lava Jato não é ainda uma conquista segura da cidadania política brasileira. Apesar de seu grande e inquestionável avanço e da quebra do paradigma da cultura de impunidade, ainda não a transformamos em sólidas instituições jurídico-políticas. A quadrilha de oligarcas e esquerdistas que tomou conta do Estado brasileiro vira e mexe ameaça cercear instituições como o Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça, sobretudo a de primeira instância, mais independente do jogo sujo dos atuais mandatários.
Mas estamos mobilizados e mobilizando. Já há dois meses está agendada para o dia 31 de julho uma nova megamanifestação de movimentos sociais organizados, entidades da sociedade civil, comunidades e grupos da internet, associações civis de profissionais, de amigos de bairro, de cidades e próprios do patrimônio público, além de pessoas físicas e jurídicas dedicadas a causas cívicas e políticas. E aqui o nosso segredo de polichinelo: não temos saído às ruas impulsivamente. Planejamos com antecedência, esquentamos os motores nas redes sociais e compartilhamos banners digitais do modelo “eu vou” para milhões de internautas curtidores.
Tenho acompanhado dezenas de redes de entidades e movimentos como a Rede Amarribo-IFC (composta de mais de 230 associações de amigos), a rede dos Observatórios Sociais (com 104 entidades filiadas), a Abracci (com 58 organizações), a Rede Cidades Sustentáveis (mais de 600 entidades), o VPR (mais de 1,3 milhão de seguidores), o MBL (mais de 150 núcleos e 1 milhão de seguidores), a Rede Raps (com mais de 450 líderes e empreendedores) e, mais recentemente, a Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos (com 53 grupos integrantes). Sem considerar milhões de ativistas digitais esparsos, somente estas últimas redes têm a capacidade de mobilizar cerca de 5 milhões de cidadãos e cidadãs conectados por Facebook, Twitter e, mais recentemente, por WhatsApp, o que torna a comunicação e a interação muito mais ágeis e dinâmicas, verdadeiras ágoras modernas de participação, consulta e informação, formando cultura de cidadania e muitas vezes se antecipando aos furos da própria mídia profissional. Não que pretendam competir com a mídia de massa, uma vez que sempre estão postando links para os próprios conteúdos da grande mídia. Mas seguramente complementam o sistema investigativo do jornalismo profissional, não apenas focando na cobertura dos “escândalos em série” da delinquência política cotidiana, que frequentemente desestimula os cidadãos, mas conscientizando de que não há outra saída senão o engajamento político dos cidadãos. Isso tem resultado na quebra de nosso paradigma cultural, superando o alegado preconceito da alienação política de nosso povo com um surpreendente protagonismo político nunca antes suspeitado.
O grande problema do novo protagonismo político da cidadania, no entanto, é o voluntarismo dos movimentos, a aparente “desorganização” das iniciativas que, como tudo o que acontece espontaneamente na sociedade, inclusive a própria dinâmica do mercado, são regidas pelos diversos interesses de indivíduos e grupos, desprovidos de uma “ordem geral” preestabelecida, a exemplo das instituições construídas a partir de códigos de conduta. Esta ordem espontânea dos movimentos sociais, embora coesa na comunicação via redes sociais, acaba por gerar iniciativas muitas vezes desarticuladas, devido ao personalismo de algumas lideranças. Mas nem assim deixa de manifestar uma expressiva força política como resultado de uma supremacia de lideranças mais aglutinadoras em momentos decisivos.
Como estamos presenciando na Comissão Especial de Impeachment atitudes meramente procrastinatórias por parte da defesa da presidente afastada, já alcunhada de “bancada do holofote” ou “bancada da chupeta”, por tantas chicanas processuais para ganhar tempo de exibição na mídia e retardar os prazos, o efeito na sociedade passou a ser exatamente o contrário diante da célere derrocada dos indicadores econômicos e sociais. Daí o dia 31 de julho, aprazado pela maioria dos movimentos sociais para a mais ampla megamanifestação entre as já ocorridas, com o objetivo preciso de pressionar os senadores “indecisos” a honrar de uma vez por todas o mandato popular a eles conferido. Dia 31 de julho será o domingo imediatamente anterior ao 1º de agosto, prazo inicialmente previsto pelo calendário do relator para a votação definitiva do impeachment. E, se for atrasado o prazo, tanto pior para a classe política nacional. O número de presenças confirmadas nas redes sociais até a presente semana já alcança mais de 1 milhão, superior às megamanifestações de 2013 e 2015 à mesma data, inclusive a última, de 13 de março deste ano, que juntou 4 milhões de manifestantes em mais de 350 cidades brasileiras.
E se posso sugerir algo aos cidadãos e cidadãs brasileiras é que tomem o país como de fato seu. Não abandonem a vida pública a políticos inescrupulosos. Porque são eles que produzem o sucateamento dos serviços públicos, o que, por sua vez, interfere diretamente na qualidade de sua vida privada. A imagem anônima que circula nas redes sociais sobre o que vem a ser a origem do poder da cidadania política vale tanto quanto um curso de educação política. Vale mais do que mil palavras. Não é preciso explicar que a correlação de forças depende justamente da aliança de cidadãos e seus coletivos.
Aliás, a Rede Aliança originou-se há cerca de um ano no bojo do movimento do Vem Pra Rua, com o objetivo de alinhar e potencializar os esforços de dezenas de grupos e movimentos democráticos atuando nas redes sociais e em mobilizações de rua, tendo como mote o combate à corrupção e à impunidade. A carta de princípios da Aliança foi assinada na assembleia geral de 28 de maio de 2015, em Brasília. Dos 42 grupos signatários, se destacavam os mais diversos: contra a corrupção, ambientalistas, de cunho cívico e patriótico, coletivos de ativismo digital e até mesmo de maçons e associações profissionais, provenientes de mais de 14 Estados brasileiros. Hoje, a Aliança conta com 55 grupos associados, bem como as ideias e propostas de cada participante através de sua página oficial.
A Aliança funciona com coordenações de planejamento, mobilização, jurídica, integração com os movimentos e comunicação. A coordenadora executiva, Henriette Krutman, é responsável pela interface externa com os demais movimentos, como VPR, Avança, Acorda, Nas Ruas, com os quais são combinadas as ações conjuntas, via WhatsApp e Telegram.
Em cada cidade, os grupos da Aliança são estimulados a interagir com os demais, principalmente no alinhamento de ações de rua. Um exemplo deste protagonismo da cidadania política brasileira vem de Evandro Neto, um membro colaborador da Aliança, responsável pelo design dos posts e edição dos vídeos de toda a Rede. Ele tem 17 anos, cursa o último ano de Informática da Escola Técnica em Almenara, Minas Gerais, e mora em Felisburgo, cidade com 6 mil habitantes no Vale do Jequitinhonha. Ele se ofereceu como voluntário a partir de uma “chamada” feita na página da Aliança pedindo colaboradores voluntários em design.
E você? Não se anima em tomar o Brasil como seu de fato? Participe. Dia 31 de julho está aí!
Jorge Maranhão é mestre em filosofia pela UFRJ e dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão.