A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) recebeu, em audiência pública nesta segunda-feira (4/11/13), o ex-motorista da empresa de ônibus Cometa, Josias Nunes de Oliveira, que teria sido acusado de provocar o acidente que vitimou o ex-presidente da República, Juscelino Kubitschek. 
A reunião, solicitada pelo deputado Durval Ângelo (PT), deu sequência aos debates iniciados pela comissão no dia 16/10 deste ano.
De acordo com o ex-motorista, tanto ele quantos os 33 passageiros do ônibus que ele guiava no dia 22/8/76, presenciaram o acidente ocorrido na Rodovia Presidente Dutra, no trecho que liga o estado de São Paulo ao Rio de Janeiro. 
Em seu depoimento, ele explicou que, ao ver a cena, parou na tentativa de prestar socorro, mas, ao verificar que havia outras pessoas no local e que os passageiros do veículo acidentado tinham morrido, seguiu viagem. 
No dia seguinte, ele teria sido chamado pelo setor jurídico da Cometa, quando foi arguido sobre o fato. "Depois disso, minha vida acabou. Simularam tinta no veículo em que estava o ex-presidente na lataria do ônibus e, com isso, fui indiciado pelo acidente", disse emocionado.
Ainda em sua fala, Josias lembrou que foi acusado pelos colegas e acabou abandonado pela família. 
"Tinha 33 anos e faço 70 na próxima semana. Desde aquele momento não consegui mais emprego e me aposentei por invalidez", relatou. 
Ao final, ele atestou que o delegado responsável pelo caso teria tentado convencê-lo a assumir a culpa pelo acidente e que teria recebido visita de dois homens que ofereceram mala de dinheiro para que ele dissesse que causou o desastre.
O presidente do Museu Casa de Juscelino, Serafim Melo Jardim, reforçou que o então motorista da Cometa nada tem a ver com o ocorrido. Segundo ele, tanto o processo quanto a perícia feita no ônibus são repletas de falhas e fraudes. 
Aos deputados ele destacou que há laudos sem assinatura, contradições periciais e depoimentos de policiais rodoviários e dos passageiros do ônibus que isentam Josias de culpa. 
"Ele acabou absolvido, mas teve a vida profissional e pessoal prejudicada por uma conspiração da Ditadura Militar", salientou.
Testemunha – O presidente da Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Gilberto Toanos Natalini, afirmou que está a procura de um legista que teria estado presente na autópsia de JK e identificado um ferimento a bala na cabeça do motorista do ex-presidente, Geraldo Ribeiro. 
Para ele, caso essa pessoa confirme o fato e o fragmento verificado no crânio do motorista seja encontrado, o caso será elucidado. "Existe tecnologia que confirma a origem e função do referido metal", disse.
O vereador destacou, ainda, que a comissão ouviu, em Aracaju (SE), o depoimento do legista que participou da exumação do corpo de Geraldo Ribeiro, e confirmou o ferimento provocado por arma de fogo na cabeça da vítima. 
"Outra pista é a carta do coronel Contreras, do então governo Augusto Pinochet, no Chile, ao general João Figueiredo, alertando para o crescimento das oposições na América do Sul, citando, inclusive, JK", completou.
Parlamentares exaltam coragem do ex-motorista
O deputado Rogério Correia (PT) elogiou a postura de Josias, o qual chamou de heroi. Para ele, sua postura resgata a verdade para os brasileiros e chama atenção para que casos como esses não se repitam no País. "Ele tem que ter as perdas ressarcidas pelo Estado, além de receber um pedido formal de desculpas públicas pelo que sofreu", cobrou.
Os deputados Luiz Henrique e Célio Moreira (ambos do PSDB) fizeram coro às palavras dos colega e pediram aos convidados que o trabalho continue, tendo em vista que os indícios de atentado político são fortes.
O deputado Durval Ângelo se solidarizou com o ex-motorista da Cometa e lembrou que, quando foi feita a exumação do corpo de Geraldo Ribeiro, ele denunciou as falhas e fraudes periciais e chegou a ser ameaçado de morte.
Ao final, Josias Nunes de Oliveira recebeu, das mãos do presidente do Clube dos Amigos de JK, o título de sócio da instituição, em reconhecimento à sua inocência e coragem na luta pela verdade.
Providências – Após os debates, foram aprovados dois requerimentos de autoria do deputado Célio Moreira. O primeiro pede o envio das notas taquigráficas da reunião para os convidados da audiência e às comissões da Verdade Nacional, Estadual e do Rio de Janeiro. O Segundo pede a realização de audiência pública em Diamantina (Central) para debater os indícios de atentado político contra o ex-presidente Juscelino Kubitschek.