Torre de telefonia em campo de futebol provoca polêmica em Francisco Badaró
Fio da rede de iluminação dos holofotes do campo ficou encostado na estrutura da torre. Alegando risco de acidente, a CEMIG desligou a energia. Jogadores e estudantes estão impedidos de utilizar o espaço durante a noite.
A instalação de uma torre de telefonia da Operadora Vivo, próxima aos fios de baixa tensão dos refletores do único campo de futebol do Distrito de Tocoíos de Minas, em Francisco Badaró, no Vale do Jequitinhonha, está provocando indignação, revolta e polêmica entre os moradores. O serviço de telefonia móvel foi inaugurado em agosto de 2015.
A torre foi instalada com autorização da prefeitura, dona do terreno.
De acordo com técnicos da empreiteira Imobluz que atende a Cemig, a obra oferece risco grave de acidentes.
A torre atende ao Programa Minas Comunica II, lançado em janeiro de 2013, pelo governo de Minas, visando a implantação de cobertura celular em 692 distritos de 359 municípios mineiros, que não contam com o serviço de telefonia móvel.
Em 20 de maio último, a Gerência de Relacionamento com clientes especiais do poder público da Cemig, enviou email para o prefeito do município Antonio Sérgio Mendes (PV) solicitando providências para a regularização da situação , já que a Cemig poderia ser acionada como co-responsável em caso de ocorrência de acidentes envolvendo a estrutura.
Como a prefeitura não tomou as providências necessárias, a Cemig desligou o sistema de iluminação do campo de futebol, causando revolta entre os moradores do lugar.
Para eles, a instalação da torre naquela área, foi um erro da prefeitura que agora se vê obrigada a buscar uma solução que passa pela remoção de dois postes, e retirada dos fios de baixa tensão que estão colados na torre de telefonia.
Até o momento, a prefeitura ainda não fez o orçamento para executar o serviço, mas, segundo o vice-prefeito Reginaldo Moreira Martins (PT) a administração vai se reunir com a Cemig para saber quem vai arcar com os custos.
Os moradores do lugar acreditam que a empresa que instalou a torre, também deve ser responsabilizada.
Para os vereadores Gilson Ferreira dos Santos (PR) e José Maria Viana (DEM) residentes na localidade, o processo de instalação da torre foi todo errado e representa perseguição política do prefeito contra eles.
“ Ele ( o prefeito ) sequer pediu autorização da Câmara, como manda a lei, para doar parte do terreno para a Operadora Vivo. Existem aqui outros terrenos até com melhor sinal, conforme foi constatado pelo engenheiro que fez os estudos. Como o terreno pertence à minha família, o prefeito não autorizou e acabou fazendo esta jogada que prejudicou toda a comunidade”, disse o vereador Gilson Ferreira, da bancada da oposição.
Para a instalação da torre, foi necessário usar cerca de 2 metros da área do campo. Para tanto, foi removido todo o alambrado lateral, que foi reconstruído em seguida.
“ O dinheiro gasto com a obra de reconstrução do alambrado, daria para comprar outro terreno. Agora, para solucionar o problema, deverão ser gastos mais dinheiro público. Nada disso seria necessário se tudo tivesse sido feito de forma correta”, afirmam os vereadores Gilson e José Maria.
Eles acusam o vice-prefeito Reginaldo Martins de ter feito pressões para que a comunidade aceitasse a instalação da torre na área do campo. “ Ele falou durante uma reunião que se a torre não fosse colocada na área escolhida pela prefeitura, o distrito perderia o benefício. Com medo, todos aceitaram”, disseram os vereadores.
O vice-prefeito, que é provável candidato a prefeito nas eleições deste ano, nega as acusações.
“ Isso não aconteceu. Temos tudo registrado em ata. Desde o início do processo, percorremos a região em busca de terrenos. Durante a consulta pública não apareceu ninguém para oferecer outras áreas. Tentamos negociar a compra de um terreno ao lado do campo, pertencente à família do vereador Gilsinho mas ele alegou que a área era de herança e toda a família deveria ser consultada e o negócio não deu certo. Só ficamos sabendo que eles tinham interesse no aluguel do terreno, após uma denúncia protocolada na Assembléia Legislativa sobre este caso. ” afirma o vice-prefeito.
A família do vereador contesta a versão do vice-prefeito.
“ Fomos procurados no ano passado pela empreiteira contratada pela Operadora Vivo, interessada no terreno ao lado do campo, que pertence à nossa família. Não fizemos nenhuma oposição. O engenheiro chegou inclusive a demarcar a área, afirmando que ela era a melhor. Depois não deram mais notícia. Quando retornaram já foi para instalar a torre onde ela está”, disse Antonio Silvano Ferreira dos Santos, que também já foi vice-prefeito do município e é irmão do vereador Gilson Santos.
Pelo aluguel da área, a Vivo pagaria R$ 800 reais.
“Vamos enviar um projeto de lei para a Câmara para que o aluguel que deverá ser pago à prefeitura, seja revertido para a comunidade. Esta semana vamos iniciar conversas com a Cemig para resolver o problema da rede elétrica e normalizar a iluminação do campo”, garante o vice-prefeito, Reginaldo Martins.
A iluminação foi instalada em 2013 com recursos de uma emenda parlamentar estadual.
O prefeito Sérgio Mendes não foi localizado para falar sobre o assunto. “ Ele está em Belo Horizonte”, informou o vice.
A Operadora Vivo e a CEMIG ainda não divulgaram nota.
Quem mais sofre é a juventude.
Desolação e tristeza. Estes são os sentimentos dos jovens que agora não podem utilizar o campo de futebol durante a noite.
" O sol e o calor são intensos e o melhor é jogar e treinar durante a noite", afirmam os jovens.
O campo fica a 1 km do centro do lugarejo. Para se chegar até lá, é preciso subir por uma ladeira de terra vermelha, sob um sol escaldante.
Além de jovens e veteranos, o campo também é usado pelas escolas para a prática de esportes dos estudantes .
Orgulho dos habitantes do lugar, os jovens temem que ele seja abandonado pela prefeitura, como aconteceu com a única quadra existente no distrito , que está destruída e sem proposta de reforma.
“ O campo é nosso único lazer que existe aqui, já que a quadra está abandonada e estragada. A prefeitura não conserta. O esporte parou.”, lamenta Jean Ferreira dos Santos, 18 anos, e Caio Fernandes, de 14. Eles são jogadores da equipe do Tocoíos, time local.
" A maioria dos adolescentes que gosta de futebol, agora não tem o que fazer. Ficamos aí, sem lugar para jogar", diz entristecido, Caio Fernandes.
O treinador do Tocoíos, José Nilton Vieira dos Santos, e o jogador Marcos Paulo Teixeira, 33, afirmam que não deveriam ter colocado a torre na área do campo.
“Fizeram uma reunião com a comunidade, mas já estava tudo decidido. Não tivemos escolha”, lamentam.