Quaresma aquece produção de peixes e vendas crescem até 40% em Minas Gerais
Repasse de tecnologia e assistência técnica estimulam a aquicultura, que se prepara antes para atender demandas da época
A tradicional época da Quaresma movimenta o mercado de peixes e, em Minas Gerais, as vendas, nos principais polos de produção, aumentaram em torno de 30% a 40%. Os índices foram informados pelas cooperativas e piscicultores individuais das regiões de Furnas (Sul de Minas), de Três Marias (Região Central) e dos municípios do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro.
Os piscicultores em questão são produtores de tilápias em tanques-rede e costumam se preparar, antecipadamente, para atender a demanda desse período. “No mês de setembro, a gente aumenta a quantidade de alevinos (peixes recém saídos dos ovos) nos tanques e, no prazo de seis a sete meses, estão prontos para a venda”, aponta o presidente da Cooperativa dos Piscicultores de Morada Nova de Minas (Coopim), Onedino Pereira de Souza.
A cooperativa reúne 20 piscicultores, que produzem 22 toneladas de tilápias, por mês, em tanques-rede instalados no lago da represa de Três Marias. Lá, o quilo do peixe vivo é vendido ao preço médio de R$ 5,50 para frigoríficos e comerciantes da região. Já o quilo do filé, em torno de R$ 25.
Mesmo com a boa oxigenada dada pela Quaresma no mercado de peixes da região, o presidente da Coopim aposta no negócio é como investimento constante, com perspectiva de futuro.“O custo da produção ainda é um desafio para o setor, mas existem compensações, como o fato de o empreendimento dar retorno rápido. Além disso, existem possibilidades de crescimento do mercado porque os brasileiros estão consumindo mais peixe o ano todo”, conclui.
Bom negócio
A produção de peixes é um bom negócio para Dulcinéia Gomes, de São José da Barra, na região de Furnas. “Nessa época a procura, aqui, cresce em torno de 30%, mas a gente não se apega às demandas só do período. Procuramos seguir um ciclo de produção que atende o mercado o ano todo”, afirma.
A piscicultura transformou a técnica de enfermagem em empreendedora. Dulcinéia entrou no negócio há cinco anos, com poucos tanques-rede e uma produção de 10 toneladas de peixe por ano.
Com a assistência técnica da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), o empreendimento cresceu e exigiu dedicação exclusiva de Dulcinéia, que teve de deixar o trabalho na área de enfermagem. “Gosto muito da profissão, mas precisei optar por investir na piscicultura que, apesar das dificuldades iniciais, se tornou mais vantajosa para a família, em termos de renda” ressalta a produtora.
Hoje, a agricultora familiar conduz o negócio com o marido e os dois filhos. São 30 tanques-rede que produzem cerca de 60 toneladas de tilápia por ano. O produto é vendido para restaurantes e peixarias da região ao preço de R$ 6 o quilo.
Mercado em Minas
Dados do IBGE mostram que Minas Gerais produziu, em 2014, cerca de 16,5 mil toneladas de peixe, movimentando aproximadamente R$ 98,5 milhões.No estado, o maior polo produtor é a represa de Três Marias, com a criação de tilápias em tanque-rede. De acordo com diagnóstico da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), divulgado em 2015, a região possui cerca de 100 piscicultores de pequeno e médio porte.
A produção anual na represa chega a 9 mil toneladas e a comercialização do peixe in natura é estimada em R$ 50 milhões por ano. Considerando toda a cadeia produtiva (venda de ração, criação e comércio de alevinos, processamento), o volume de recursos que o setor movimenta, anualmente, ficaria em torno de R$100 milhões
Fomento
A piscicultura tem potencial para crescer mais em Minas Gerais. Para fomentar o setor, segundo a diretora de Aquicultura, Ana Carolina Euler, da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abatecimento (Seapa), um dos desafios é a reformulação da legislação ambiental.
“Em conjunto com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), estamos pontuando os impactos da atividade na natureza e vamos propor soluções. A intenção é padronizar o licenciamento ambiental aquícola no estado”, observa.
A diretora de Aquicultura também destaca o trabalho desenvolvido pela Seapa, por meio da Emater-MG, para a capacitação de técnicos e piscicultores com foco na produção e conquista de mercado. Ainda cita as ações do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) de defesa sanitária de animais aquáticos.
Outra aposta da Seapa, segundo Ana Carolina, é a implantação do Programa de Desenvolvimento Estratégico da Aquicultura em Minas Gerais (ProPeixe), que está em tramitação na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O programa estabelece mecanismos de fomento e de desenvolvimento da produção aquícola no estado.
Tecnologia
Tecnologias desenvolvidas pela Epamig reforçam a estratégia de estímulos à aquicultura, contribuindo para tornar eficiente a produção de peixes no estado. Essas tecnologias são repassadas tanto para funcionários das empresas e órgãos públicos de assistência técnica, quanto para os produtores e entidades que representam a piscicultura.
Além de pesquisa em criação de tilápia em tanque-rede, a Epamig realiza, no campo experimental de Arcos, no Centro-Oeste mineiro, estudos sobre o sistema de produção de peixes em fluxo contínuo de águas. No mês passado, durante encontro de Piscicultura, o pesquisador da Epamig, Vicente Gontijo, apresentou o modelo para produtores rurais e sindicatos de agricultores da região.
O sistema, de acordo com o pesquisador, tem como vantagens a facilidade de manejo, o aumento da produção, redução de custos, diminuição dos impactos ambientais e da mão de obra. Um manual com o passo a passo para a implantação de uma unidade produtiva está disponível para download no site da Epamig, no menu publicações.