Quilombolas abrem novo roteiro de turismo para o Vale do Jequitinhonha
O programa é coordenado por uma historiadora e uma turismóloga por meio do Cedefes (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva), ONG que trabalha com questões quilombolas e indígenas de Minas Gerais.
O Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais, é uma das regiões mais pobres e com indicadores sociais mais baixos do país.
Ao falar na região, vêm à mente imagens de clima semiárido, poeira, plantas secas, raros animais, pouca comida e quase nenhuma água.
Mas, de perto, a realidade é outra. A paisagem na verdade é rica e o clima, favorável para muitas espécies. Seu Hermínio, morador de Berilo, garante: “ Aqui dá de tudo que plantar...Mas se estiver chovendo né?
A cultura é viva nas comunidades. E as danças e músicas que corriam o risco de desaparecer ganham novo fôlego com o engajamento dos jovens e a perspectiva trazida pelo novo projeto turístico na região: A Rota dos Quilombos ( comunidades originalmente formadas por africanos escravizados no Brasil ).
Inaugurado no mês passado, o projeto tem o objetivo de gerar renda para esses locais.
O programa é coordenado por uma historiadora e uma turismóloga por meio do Cedefes (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva), ONG que trabalha com questões quilombolas e indígenas de Minas Gerais.
O Tour abrange as cidades de Berilo, Chapada do Norte e Minas Novas. Delas, parte-se para as comunidades quilombolas, situadas na zona rural desses municípios.
Quanto custa
O valor para o passeio de nove horas nas comunidades fica entre R$ 260 e R$ 300 por pessoa, para grupos de até seis visitantes, incluindo alimentação e monitor local.
Nas visitas aos moradores, a hospitalidade interiorana brasileira, se mostra inteira- quase exageradamente. Em todos os lugares que visitamos, nós turistas, tínhamos que comer primeiro, enquanto todo mundo esperava.
A culinária local é variada, saborosa e farta. Os lanchinhos do passeio, chamados “ quitandas”, incluem: biscoito de polvilho frito, de fubá, brevidade ( espécie de bolo de polvilho), pães caseiros, rapadura, pé de moleque, doce de leite...sempre acompanhadas de café e contação de causos.
Para os almoços, feijão tropeiro, feijoada, galinha caipira, angu, canjiquinha com quiabo e costelinha de porco e alguma boa cachaça das redondezas. Quase tudo tirado dali mesmo, no quintal das famílias que recebem os turistas.
Riqueza cultural
Na cultura, destacam-se as danças e músicas marcadas pelo sincretismo religioso. Os Tamborzeiros de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos fazem uma apresentação enérgica, com forte influência do condomblé- em uma igreja de interior pomposo, de arquitetura barroca, em Chapada do Norte.
A mistura se repete na comunidade quilombola de Catitu do Meio. Dentro da igreja pequenina reza-se o terço inteiro, cantado. Do lado de fora, ouve-se o batuque.
As tecelãs de Roça Grande, em Berilo, misturam as atividades com músicas de batuque que falam de trabalho e da realidade do semiárido.
Ali, o algodão é tratado com a batida das varas compridas que marca o ritmo das canções.
Não é um turismo de massa, as organizadoras reconhecem, mas tem potencial para atrair muita gente em troca de experiências.
Nossa intenção é que quem vem de fora vivencie o cotidiano de uma comunidade quilombola. O público que a gente busca não é o que vai visitar o Corcovado, o Cristo Redendor. É um turista que quer fazer uma troca de experiências e que vai querer deixar algo”, dizem as duas especialistas do Cedefes.
Então, nada de cheguei, clique, próxima!..Claro, há paisagens lindas, danças fotogênicas e comidas que ficarão ótimas no instagram. Mas a melhor parte depende da disposição para contar e ouvir histórias.
Rota dos quilombos
INFORMAÇÕES E RESERVAS
É preciso escrever para o email do projeto, [email protected].
A página do facebook- agentes quilombolas socioambientais, também informa sobre o tour.