Monitoramento 24h do Sistema de Alerta do Rio Doce é antecipado
Diretores da empresa afirmam que cerca de 62 milhões de m³ de rejeitos foram liberados no meio ambiente
Desde que as barragens do Fundão e de Santarém, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), se romperam na tarde de quinta-feira, 5, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Serviço Geológico do Brasil, por meio da Superintendência Regional de Belo Horizonte, está antecipando o início da operação 24 horas de monitoramento contínuo do Sistema de Alerta da Bacia do Rio Doce, o qual abrange diversos municípios do Leste de Minas Gerais e do Espírito Santo. Até a manhã deste sábado o lamaçal já havia chegado a Ipatinga. Lá, o nível do rio não se alterou, por causa da seca que assola a região. Contudo, o que pode ser visto é uma água suja, e não o lamaçal grosso.
Diretores da empresa responsável pelas barragens, a mineradora Samarco, disseram que cerca de 62 milhões de m³ de rejeitos foram liberados no meio ambiente. Se fôssemos comparar, esse número daria para encher mais de 24 mil piscinas olímpicas.
De acordo com a CPRM, o Monitoramento 24h do Sistema de Alerta do Rio Doce estava previsto para ser iniciado dia 23 de novembro. Mas, em virtude da tragédia em Mariana, foi antecipado. “Neste fim de semana, equipes técnicas de campo e de escritório estarão mobilizadas para acompanhar o evento ao longo da calha do rio Doce, monitorando seus níveis 24 horas em tempo real”, informou.
A CPRM ressaltou que os boletins contendo todas as informações monitoradas serão publicados no site do Serviço Geológico do Brasil — www.cprm.gov.br — diariamente e encaminhados às defesas civis do Estado de Minas Gerais, dos municípios afetados e outros órgãos competentes. “O sistema tem como objetivo alertar 15 municípios da Bacia quanto ao risco de ocorrência de enchentes. Os municípios são: Ponte Nova, Nova Era, Antônio Dias, Coronel Fabriciano, Timóteo, Ipatinga, Governador Valadares, Tumiritinga, Resplendor, Galileia, Conselheiro Pena e Aimorés, no Estado de Minas Gerais; e Baixo Guandu, Colatina e Linhares, no Estado do Espírito Santo”, frisou.
Á gua poderá ser alterada com os dejetos
A Câmara Técnica de Gestão de Eventos Críticos (CTGEC) do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce) divulgou nota alertando sobre as prováveis alterações qualitativas na água, além da onda de cheia, provenientes da ruptura das barragens de rejeito de mineração. A presidente da CTGEC, Luciane Teixeira Martins, informou que “a natureza do resíduo em questão implica em prováveis alterações temporárias nas características da água bruta, especialmente com relação a parâmetros de turbidez, cor, entre outros”, disse, acrescentando que “de acordo com informações preliminares repassadas pela Samarco, o rejeito é composto, em sua maior parte, por sílica (areia) proveniente do beneficiamento do minério de ferro. Estamos acompanhando e aguardando o resultado das análises de água e sedimento que estão sendo realizadas na região afetada pelo Senai/Cetec, acionado por meio do Igam. Cabe aos operadores e aos responsáveis pela vigilância da qualidade dos recursos hídricos o monitoramento da água a ser captada, tratada e distribuída”, afirmou.
Ainda segundo Luciane Teixeira Martins, a esperança é que ocorra a amortização da onda de cheia por meio da operação das UHEs de Baguari e Aimorés. “Espera-se que as referidas barragens contribuam para a redução das vazões como também para a retenção e diluição parcial dos resíduos”, disse, ressaltando que não há razões para alarme sobre inundações nos municípios do Médio e Baixo Rio Doce.
Verificação em prol da saúde
Como na hemodiálise em pacientes renais é necessário a utilização de água potável, o presidente da Fundação Ezequiel Dias (Funed), Renato Fraga, destacou que a instituição colocará os 42 laboratórios à disposição para analisar a água, saber se ela é potável, para que seja utilizada nos hospitais da cidade, como o Samaritano e Nossa Senhora das Graças, onde são feitas hemodiálises. Além disso, Fraga afirmou que além de avaliar o risco para a saúde pública e dos consumidores, o procedimento de análise será feito não só em Valadares, mas em toda a Bacia do Rio Doce.
Trajeto da lama
De acordo com informações de Boletim Extraordinário do Serviço Geológico do Brasil (CPRM)[1], a onda de cheia está se deslocando pela calha do rio Doce, sendo que o pico da onda passou pela usina Risoleta Neves (Candonga) por volta das 10 horas de sexta-feira, com vazão máxima verificada de 1.900 m³/s. A previsão é que o pico atinja a estação Governador Valadares na madrugada deste domingo; a estação Colatina no período da tarde do dia 09/11; e a estação Linhares na noite de 9/11 para 10/11.
Segundo a CTGEC, a onda provocará alteração abrupta do nível da água, razão pela qual recomendamos aos usuários que protejam suas instalações de captação durante a passagem da onda de cheia, a qual tende a ser inferior a 4 horas.
DESAPARECIDOS
Na manhã deste sábado, o Corpo de Bombeiros atualizou para 23 o número de desaparecidos, sendo 13 trabalhadores da mineradora Samarco e dez moradores da região. Até então a informação era de que 13 pessoas estavam desaparecidas. Pelo menos duas pessoas morreram no desastre. A Samarco informou em seu site que até o momento 136 famílias — ou 569 pessoas — foram alocadas em hotéis e pousadas da região pela empresa responsável pela barragem. Já foram disponibilizados ainda sete helicópteros para o resgate; 600 kits de emergência compostos por colchão, lençóis, toalhas, cobertores e materiais de higiene pessoal; 3.800 lanches e refeições e 10 mil garrafas de água.
Animais são resgatados
Mais de 30 animais, em sua maioria cães e gatos, foram resgatados por um grupo de ambientalistas de Ouro Preto. Depois do resgate os animais foram vacinados, levados a veterinários e serão encaminhados para adoção. Neste momento os animais resgatados necessitam de doações de rações, medicamentos veterinários, coleiras para auxiliar no recolhimento, xampu para cães e gatos, entre outras coisas.