Há aproximadamente cinco anos atrás era conselheiro da Supram, órgão ambiental estadual responsável pelos licenciamentos dos empreendimentos, dentre outras atribuições. Dentre as dezenas de reuniões que participei, uma em particular me chamou a atenção. A barragem construída pela Copasa no rio Todos os Santos, que tem por finalidade armazenar água para abastecimento da cidade de Teófilo Otoni. Após vários embates e discussões durante a reunião, um técnico da Copasa, durante a sua apresentação, resumiu em poucas palavras uma situação que ainda não era grave mas estava em vias de se agravar: "Se o funcionamento da represa não for autorizado, a cidade de Teófilo Otoni sofrerá com a falta de água no próximo período seco". Esta frase foi derradeira para que o seu licenciamento fosse aprovado. Atualmente, graças a represa, a cidade não sofre com o racionamento no período seco, e mantendo a vazão do rio Todos os Santos.

No Vale do Jequitinhonha, várias cidades próximas a Araçuaí sofriam com a falta de água no período seco. O rio Setúbal praticamente secava neste período deixando milhares de moradores da região à míngua. Recentemente foi inaugurada a barragem de Setúbal, que represa a água no período chuvoso, mantendo o fluxo do rio no período seco. Uma dissertação de mestrado do aluno Gerson, que oriento na UFVJM em Teófilo Otoni, mostrou que as cidades à jusante da barragem, ou seja, abaixo da barragem, não sofrem mais com a falta de água para abastecimento humano além de potencializar a produção agropecuária da região, graças à irrigação, melhorando a renda e a qualidade de vida das pessoas da região.

Agora, vamos passar por Itambacuri, antes de chegarmos a Governador Valadares. A situação está caótica na cidade, pois simplesmente a água acabou! A prefeitura e o Exército estão fazendo o abastecimento da população com caminhões-pipa. As escolas cancelaram as aulas ou estão mandando os alunos trazerem água de casa. O reservatório da cidade é pequeno, antigo, mal dimensionado e está assoreado!

E Governador Valadares? Bem, ladeamos o principal rio da bacia, o rio Doce, que recebe água de diversos pontos. Uma bacia que representa mais de 1% do território nacional. Um rio que quando cheio, e sem provocar enchentes, atinge volumes superiores a 1.800 metros cúbicos por segundo. Isto corresponde a um milhão e oitocentos mil litros de água por segundo na região de Governador Valadares, e na seca os valores ficam em 175 mil litros por segundo. Mas devido a nossa seca histórica, segundo informações da PCH Baguari, a vazão está em torno de 64 mil litros por segundo. Mas, se fizermos um exercício de lembrança, no ano passado também sofremos com o racionamento, mas em um menor grau de intensidade. E que lição tiramos do ano passado? Ao que parece, nenhuma. O Saae precisa, para abastecer toda Valadares, de 1.200 litros por segundo, apenas 2% da vazão do rio em sua baixa recorde. Mesmo assim a captação foi reduzida pela metade e estamos sofrendo, e muito, com a falta ostensiva de água. Uma nova bomba está sendo instalada no rio, de forma emergencial, para tentar amenizar esta situação caótica que estamos vivendo. Será que a situação de hoje poderia ser evitada? Posso falar de cadeira que o problema não é de recursos humanos, pois o órgão possui excelentes profissionais capacitados para resolver o problema. Então onde está o problema?

FOTO: Antônio Cota