Acusado de ser o mandante do Massacre de Felisburgo,em 2004, o fazendeiro Adriano Chafik afirmou durante julgamento nesta quinta-feira (10), em Belo Horizonte, que o assentados iniciaram o conflito e que andava armado por se sentir ameaçado.

Ele confirmou ter atirado contra um trabalhador, mas disse acreditar que o tiro não o tenha atingido e que os próprios sem terra é que teriam incendiado o acampamento.

Em depoimento que durou cerca de duas horas Chafik contestou a acusação do Ministério Público.

O promotor Cristiano Nunes acredita que a pena de Adriano Chafik possa chegar a 170 anos de prisão, mas quer impedir que ele recorra em liberdade.

— O MP fará sua acusação pedindo que eles sejam condenados e mantidos presos porque não é justo que uma pessoa que comete um assassinato brutal desses, pegue 170 anos de prisão, que é o que agente espera, e fique solto.

O capataz Washington Silva, um dos 14 acusados de matar cinco sem-terra e tentar matar outros 12 em 2004, em Felisburgo (MG), confirmou nesta quinta-feira (10), no julgamento do caso em Belo Horizonte, que estava no local da chacina no momento dos crimes, mas afirmou não ter visto nem ouvido nada.

Silva nem sequer confirmou os seus depoimentos prestados e assinados durante a fase de instrução do processo, com a presença de dois advogados.

Todas as suas respostas foram no sentido de dizer que nada sabia.

O capataz está sendo julgado juntamente com o fazendeiro Adriano Chafik, para quem trabalha há 22 anos. É o primeiro julgamento do caso, após quase nove anos dos crimes, registrados em 20 de novembro de 2004.

Chafik e Silva respondem pelas acusações de homicídio, tentativa de homicídio, incêndio e formação de quadrilha.

No seu depoimento, o capataz disse que viu os homens de Chafik armados e não viu os sem-terra armados. Afirmou ainda ter visto um sem-terra atacar com uma foice o seu patrão, quando Chafik disparou sua pistola duas vezes.

Silva disse ter ficado cerca de dez minutos na cena da chacina, mas que não viu nada, nem mesmo o incêndio no acampamento. Alegou que depois desse tempo saiu correndo por uma estrada vicinal.

À Promotoria ele negou que tenha dito em depoimentos anteriores, por exemplo, que havia visto seu patrão entregar gasolina para que os homens contratados ateassem fogo ao acampamento.

Com Silva, o juiz Glauco Fernandes encerrou a parte dos depoimentos.

Os debates tiveram início logo em seguida, com a fala do promotor Christiano Leonardo. A previsão é que a sentença seja conhecida até o começo da madrugada desta sexta-feira (11).

 

Sobrevivente

Uma das sobreviventes do massacre, hoje com 20 anos, se lembra do dia em que os trabalhadores foram cercados. Maíra Gomes detalha a crueldade que viveu.

— Uma companheira gritou para trazer as crianças, para ter piedade. E o Adriano gritou que era pra matar todo mundo, criança, jovem, adulto. Veja o grau de crueldade. Um amigo meu tinha 11 anos e tem uma bala alojada no olho até hoje.

Segundo a promotoria, o fazendeiro liderou um grupo de 14 pistoleiros que surpreendeu os sem terra e deu ordens para matar inclusive crianças. Depois do massacre, os pistoleiros atearam fogo nos barracos. Cinco pessoas morreram e 12 ficaram feridas, incluindo uma criança de 12 anos.

Desmembramento

Dois pistoleiros acusados do crime, Francisco Rodrigues e Milton Francisco de Souza, seriam julgados hoje.

 O juiz Glauco Soares Fernandes aceitou a solicitação e marcou o júri para o dia 23 de janeiro de 2014.