Crônicas do Lobo: Uma visita inusitada
por Sebastião Lobo - escritor e autor de vários livros
Ele apareceu lá em casa, no sítio, de supetão. Só depois de uma lambança danada no forro onde se instalara, é que afinal o descobrimos. Era um macaquinho muito feio e magro. Só pêlos, pele e ossos. Ao sentir a nossa presença encolheu-se todo. Á nossa aproximação reagiu com gestos ameaçadores.
Lavamos por precaução umas bananas, que em princípio ele recusou tenazmente. Mas com a nossa insistência e mimos resolveu aceitá-las.
- Seria bom não fazermos muito barulho, aconselhei aos que estavam comigo. Ele pode nos agredir.
O bicho de uma magreza assustadora demonstrava a mais completa desnutrição. Naturalmente viera parar ali após perder o seu habitat natural, escorraçado pela fome e a sede.
Com uma rapidez incrível ele arrebatara a primeira banana que lhe havíamos atirado e que antes recusara. Com casca e tudo foi logo triturando com os minúsculos dentinhos afiados, consumindo-a em poucos minutos. Queria mais pelo jeito.
Só então, ao mostrar-se todo pudemos ver o seu estado de penúria.
- O que fazermos com ele? Questionamo-nos ao mesmo tempo.
Particularmente dei vasão ao amor imenso que sempre tive pela natureza e suas criaturas. Mais do que isso deixei que o coração falasse.
- Seria uma crueldade abandoná-lo no estado em que se encontrava.
Minha mulher estrilhou:
- Não venha me dizer que você ta morrendo de amores por este bicho asqueroso!
- Não é bem isto, querida. Estou pensando em ligar para o IBAMA vir busca-lo. Primeiro vou chamar alguém para retirá-lo aqui de cima.
Hesitei um instante e prosseguí:
- Acho que chamar a polícia florestal é mais rápido e prático.
Mais uma vez minha mulher subiu o tom:
- E você acha que o IBAMA ou a polícia florestal vai perder seu tempo para vir até aqui buscar esta caricatura de macaco? Eles que têm tanta coisa mais importante para fazer. Sinceramente, acho que você não tá regulando bem.
A esta altura a miniatura de macaco queria mais banana. Estava mesmo vazado de fome. De repente ele devorou três e ainda choramingou querendo mais.
Descemos afinal do forro da casa por um alçapão. Pedimos a um senhor que nos prestava serviços para desalojar o macaco sem machucá-lo. Com todo cuidado.
- Pois não, prometeu o serviçal.
Avaliei por algum tempo com a família, quantos milhares de macaquinhos como aquele não morriam esfomeados pelas rareantes selvas brasileiras. E como ele, outros animais, provam de que o país da atualidade pouco ou nada possui do que diz o seu Hino Nacional. Esse negócio de “nossos bosques tem mais vida/ nossa vida no teu seio mais amores” é conversa pra boi ouvir. É pura simbologia de um Joaquim Osório Duque Estrada. Nada mais.
*Sebastião Lobo é jornalista, advogado, colunista do Diário do Jequi, escritor, autor de vários livros e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni