Água, pelo amor de Deus
Colunista: Sebastião Lobo
Falava-se até pouco tempo que o Brasil era a Caixa D’água do Mundo. Era. Já não o é mais.
Este bem comum mais precioso da vida, com o passar do tempo e o rarear das chuvas, torna-se cada vez mais difícil. E põe a nação brasileira com o problema sério de torcicolo de tanto olhar para cima, buscando o menor sinal da chuva.
O que de início era apenas uma preocupação, agora vira pesadelo. Um pesadelo que se estende por todo o território Nacional, com temperaturas altíssimas, insuportáveis, que matam, apavoram, torturam durante o verão e até em outras épocas do ano.
As consequências desta mudança climática drástica em que as estações se confundem, são terríveis. Causam transformações de hábitos no comportamento humano, imensos prejuízos às fontes produtoras, sobretudo à lavoura, elevando o custo de vida, às indústrias à retração, abarrotam os hospitais de vítimas da insolação, influenciam negativamente na geração da energia elétrica, enfim inviabilizam a existência plena sobre o globo terrestre, pois o problema é mundial, não há como negar.
Efetivamente a Natureza nunca cobrou tão caro de seus carrascos impiedosos como agora. É uma lição implacável de que se deve respeitar as leis naturais que regem o universo ou tudo está perdido.
O uso irracional e desregrado da água tem agora efeitos terríveis, pode-se mesmo dizer catastróficos.
É notório que o desperdício da água está por toda parte, não obstante sua escassez alarmante. É um desperdício generalizado, sem limite.
Como se não bastasse o uso abusivo da água, a situação torna-se mais grave e preocupante com a destruição de suas nascentes e a poluição dos rios, com o extermínio da vida aquática.
Soma-se a isto a devastação das matas siliares e do ecossistema, elementos indispensáveis à vida hídrica.
Conta-se ainda a degradante contaminação do meio ambiente e da atmosfera pelos poluentes industriais e as experiências espaciais.
São tantas e tantas as agressões violentas à Natureza que esta não suportando mais o flagelo, reage com fúria contra seus agressores.
Os conflitos na disputa pela água, sobretudo nos grandes centros populacionais, estão ganhando proporções incontornáveis, transformando-se até em casos de polícia e demandas judiciais.
Nas filas intermináveis, o povo já pede água até pelo amor de Deus. E ocasionalmente enfrentando rajadas de ventos, relâmpagos, trovoadas ensurdecedoras, raios em profusão, corre para a coleta dos primeiros diamantes líquidos que possam lhes saciar a sede e assegurar a sobrevivência. Depois... o pesadelo continua. Parece um fim de mundo.
*Sebastião Lobo é jornalista, advogado, escritor, colunista Diário do Jequi, autor de vários livros e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni