O assassinato do jornalista Evany José Metzker, de 67 anos, pode estar relacionada à sua atividade profissional.

Por meio de nota, a Polícia Civil informou que a delegada Fabrícia Nunes Noronha, de Pedra Azul, que investiga o caso, trabalha com a possibilidade de crime de mando por divergências políticas.

A segunda hipótese é de crime passional, o que a família de Evany, que escrevia no blog “Coruja do Vale”, descarta com convicção. O jornalista foi degolado na cidade de Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, onde estava desde fevereiro investigando denúncias.

“Não tenho dúvida de que meu marido foi morto por causa do trabalho dele. Ele investigava tudo e ia a fundo. Certamente, deve ter mexido com a ferida de algum poderoso”, afirmou ontem a professora Hilma Chaves Silva Borges, de 51, viúva de Metzker. “Ele investigava tudo, a sujeira dos políticos, a prostituição infantil, o roubo de cargas. Ia fundo, em uma região muito perigosa. Certamente descobriu alguma coisa que atingiu alguém”, disse a mulher. O corpo do jornalista, que foi encontrado na tarde da segunda-feira, foi sepultado em Medina, onde o casal morava, também no Vale do Jequitinhonha.


O delegado Alberto Cardoso , chefe do 15º Departamento de Polícia Civil de Teófilo Otoni, disse que o esclarecimento do caso é prioritário: “A prioridade se deve ao fato de ter sido ceifada uma vida de maneira cruel. Além disso, foi assassinado um jornalista e a imprensa é o elo entre o Estado e a sociedade. Qualquer atentado contra a imprensa é um atentado contra o estado democrático de direito”, destacou.

Um policial que pediu anonimato disse que a maior dificuldade para apurar o crime é que o corpo de Metzker foi jogado à beira de uma estrada, em local isolado da zona rural, com pouco movimento de pessoas. A casa mais próxima fica a quatro quilômetros de distância e ninguém viu qualquer movimentação suspeita na data provável do assassinato.


O corpo de Metzker foi encontrado em estado avançado de decomposição. Na necropsia, no Instituto Médico Legal (IML) de Teófilo Otoni, foi colhido material para exame em laboratório na capital, que vai apontar se ele foi degolado quando ainda estava vivo.


DEPOIMENTO

 Nessa terça-feira pela manhã, a delegada Fabrícia Nunes foi a Padre Paraíso levantar as primeiras informações sobre o homicídio, mas retornou à tarde para Pedra Azul, a 160 quilômetros, onde estava de plantão, suspendo as investigações. Na cidade, a policial tomou o depoimento de Valseque Bonfim, dono de um blog na cidade (Lente do Vale), que vinha mantendo contato frequente com a vítima. Porém, ele garantu que Metzker não lhe contou quais denúncias apurava no município.

Valseque disse que na noite da quarta-feira (13) jantou com Metzker em um restaurante, na última vez que o jornalista foi visto na cidade. “Ele me disse que estava viajando para Brasília para tratar de negócios e que, no dia seguinte, me telefonaria”, disse. O blogueiro acrescentou que, há cerca de um mês, Evany Metzker contou-lhe que estava fazendo “trabalhos investigativos” na região, mas não relatou nenhum tipo de ameaça. “A única coisa que falou é que, como fazia trabalho investigativo, era ‘rastreado’ por uma equipe de jornalistas de Belo Horizonte, que trabalhava com ele”, relatou a testemunha, que disse ainda não ter percebido comportamento diferente da vítima.

MEDO E COBRANÇAS 

A morte do jornalista virou o principal assunto das rodas de conversa em Medina e Padre Paraíso, deixando moradores assustados. Entre os possíveis motivos para alguém matar Evany Metzker por vingança surgiu o comentário de que ele investigava a possível compra de terra na região por perigosos traficantes.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais manifestou seu repúdio diante do crime por meio de nota, e exigiu que o assassinato seja rigorosamente investigado e punido.

O sindicato acrescentou ainda que foi procurado por diversos profissionais que relataram o clima de violência na região, em decorrência do tráfico de drogas e de prostituição infantil. “O próprio Evany foi avisado de que corria risco de ser morto. Por isso, o sindicato não aceita que seja descartada a hipótese de assassinato relacionado ao exercício da profissão, antes de uma rigorosa e isenta investigação”, diz a nota.