Vale do Jequitinhonha: Onde Começa e Onde Termina?
Em março de 1978 quando foi criado o Jornal GERAES, o Vale do Jequitinhonha era definido pelas estruturas burocráticas e administrativas do estado de Minas Gerais, como uma região composta por 52 municípios, com 71.552 Km2 de extensão territorial, ocupando 14,5% do estado. Para se “responsabilizar pelo planejamento e acompanhamento de projetos e ações” que ajudaria no desenvolvimento da região, o governo de Minas, através da Lei Constitucional Nº 12, de 06 de outubro de 1964, criou a Comissão de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha – CODEVALE.
Projetos e mais projetos foram feitos para a região, sendo que a maioria deles nunca saiu das gavetas em Belo Horizonte, já que a instituição não tinha recursos, e nem força política, para concretizar o seu trabalho. O povo do Vale até dizia que: “Aqui no Jequitinhonha a CODEVALE não acode nem vale”. O tempo passou nada de concreto foi realizado e assim o próprio estado que a criou também a extinguiu. Para substituir a CODEVALE, foi criado em 2002, o Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas – IDENE que também nada fez.
Durante o governo Aécio Neves mais uma instituição apareceu com os mesmos objetivos das anteriores, com o pomposo nome de Secretaria de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas –SEDVAN.
Para atender aos interesses de políticos locais e de deputados, foram criados mais 28 municípios no Vale do Jequitinhonha, sendo 04 em 1992 (Lei nº 10.704, de 27/04/92) e 24 em 1995 (Lei nº 12.030, de 21/12/95). Somando tudo agora o Vale passou de 52 para 80 municípios. Isto significa que o Vale passou a ter um novo corpo e um novo rosto? Sendo assim, aonde se encontra o seu retrato? Para efeitos político-administrativos toda região deve ter o seu mapa, o seu retrato, que identifica claramente os contornos desse corpo e o seu conteúdo.
Claro que não é o simples fato da definição geográfica e seus contornos que vão necessariamente contribuir para que uma região, no caso específico o Vale do Jequitinhonha, possa se desenvolver. O estado de Minas Gerais e os seus governantes e políticos, sempre souberam por anos e anos que o Vale do Jequitinhonha tinha 52 municípios, no entanto a região sempre ficou abandonada. O desenvolvimento de um país, um estado ou uma região é fruto principalmente de um planejamento estratégico de um governo que pensa e trabalha compreendendo o estado como um todo, sem privilégios definidos eminentemente por interesses politiqueiros e de grupos econômicos.
Entretanto consideramos que, as definições da quantidade de municípios, extensão territorial e, o mais importante em tudo isso, o conhecimento sobre a população que habita em uma determinada região, podem contribuir para uma maior e melhor articulação entre prefeitos e municípios, para o desenvolvimento da cultura e um maior conhecimento da sua história. Só como exemplo: o GERAES nasceu em 1978 para trabalhar com o Vale que tinha 52 municípios. Agora, qual é o verdadeiro Jequitinhonha com quem devemos trabalhar? Imaginemos qual a resposta que teria um professor na escola, se o estudante lhe perguntasse: professor, quais são os nomes dos municípios do Vale?
Para encontrar uma resposta, buscamos as estruturas administrativas do estado para confirmar todos os dados. Primeiro acessamos a página da Internet (www.idene.mg.gov.br) onde a SEDVAN informa que o Vale do Jequitinhonha é formado por 53 municípios. Ou seja, nem são os 52 de antes nem os 80 com os novos municípios. Ora, se é assim como vamos saber onde começa e termina o Vale? Frente a essa confusão, buscamos então pessoalmente a SEDVAN, que conforme as novas estruturas orgânicas da política administrativa do Estado é a nova instituição responsável pelo Vale do Jequitinhonha e a resposta foi a seguinte: “Enquanto não for feita legalmente esta nova divisão geográfica, entendemos que o Vale do Jequitinhonha é formado por 80 municípios”.
Esta indefinição, em nossa opinião, é mais um descaso político com o Vale do Jequitinhonha, que mostra não ser tão importante para o Governo de Minas. Se o Governo enxergasse o Vale com outros olhos, esta situação já teria sido resolvida. Claro está que essa responsabilidade por encontrar uma solução ao problema, deve ser cobrada também aos políticos locais, primordialmente aos prefeitos que administram os municípios, pois eles são o primeiro instrumento político-administrativo de ligação com o Estado. E esta solução é necessária, pois sabendo quais são de fato os municípios da região, isso facilitaria uma melhor organização política, entre as entidades da sociedade civil, prefeitos e vereadores, para cobrar ações concretas dos governos estadual e federal.
É preciso redefinir com urgência o novo mapa do Vale do Jequitinhonha, pois uma região que não se conhece, não pode se amar. No caso do GERAES, com mapa ou sem mapa, ele continuará assumindo a identidade política cultural do Vale do Jequitinhonha.
CIDADES DO VALE DO JEQUITINHONHA
Almenara Divisópolis** Leme do Prado* Rio Pardo de Minas Angelândia* Felício dos Santos Malacacheta Rio Vermelho Araçuaí Felisburgo Mata Verde** Rubelita Aricanduva* Francisco Badaró Medina Rubim Bandeira Franciscópolis* Minas Novas Salinas Berilo Fruta de Leite* Monte Formoso* Salto da Divisa Berizal* Grão Mogol Montezuma** Santa Cruz de Salinas* Bocaiúva Guaraciama* Nova Porteirinha* Santa Maria do Salto Botumirim Indaiabira* Novo Cruzeiro Santo Antônio do Jacinto Cachoeira de Pajeú Itacambira Novorizonte* Santo Antônio do Retiro* Capelinha Itamarandiba Olhos D’Água* São Gonçalo do Rio Preto Caraí Itaobim Padre Carvalho* Senador Modestino Gonçalves Carbonita Itinga Padre Paraíso Serranópolis de Minas* Chapada do Norte Jacinto Pai Pedro* Serro Comercinho Jenipapo de Minas* Palmópolis** Setubinha* Coronel Murta Jequitinhonha Pedra Azul Taiobeiras Couto Magalhães de Minas Joaíma Ponto dos Volantes* Turmalina Cristália Jordânia Porteirinha Vargem Grande do Rio Pardo* Datas José Gonçalves de Minas* Riacho dos Machados Veredinha* Diamantina Josenópolis* Rio do Prado Virgem da Lapa
Fonte: Instituto de Geociências Aplicadas – IGA
* Municípios criados em 1995. ** Municípios criados em 1992.
Por: Tadeu Martins Soares
Eventos e Produtor cultural, contador de causos e apresentador de eventos.