PT pode ter desviado verbas para comprar votos no Norte de Minas
Além de dentaduras, aposentadorias fraudadas e a inclusão de eleitores em programas do governo federal, o esquema de compra de votos pelo PT no Norte de Minas é suspeito de desvio de verbas de Monte Azul, município com cerca de 22 mil habitantes.
É o que aponta relatório final de inteligência da operação “Curinga”, da Polícia Federal (PF) em Minas.
Instaurado inicialmente para investigar fraude na Previdência Social da região, a apuração acabou descobrindo fortes indícios de crimes eleitorais em favor das campanhas dos deputados petistas Paulo Guedes e Reginaldo Lopes, os mais votados do Estado.
Conforme grampos telefônicos da investigação, obtidos com exclusividade pelo Hoje em Dia, o vice-prefeito Toninho da Barraca (PT); a presidente da Câmara Municipal, Marineide do Sindicato (PT); e o vereador Geraldo Ladim (PT) intermediaram a concessão de cimento, canos, combustível, além de transporte para cidadãos votarem no dia da eleição.
O deslocamento de pessoas até a agência do INSS na cidade de Espinosa, local onde as aposentadorias irregulares eram concedidas, também foi custeado com dinheiro desviado dos cofres da prefeitura.
Em 9 de setembro, Toninho foi flagrado determinando a um servidor da prefeitura que separasse 20 canos de 50 mm para Alex Zacanyny Mascarenhas. Mais cedo, no mesmo dia, Mascarenhas solicitou o material que, segundo ele, seria instalado na propriedade rural dele.
No fim da conversa, Toninho pede voto: “Depois cê conversa com seu sogro lá. Ajuda nós no deputado nosso aí”. E recebe resposta: “Viu, pode deixar que eu vou conversar”.
Cinco dias depois, em 14 de fevereiro, Toninho é flagrado negociando 12 sacos de cimento diretamente com Dimael Custódio Moreira, que queria reformar a laje da casa dele. Na conversa, Moreira pede que o político envie santinhos dos candidatos. “Tá, eu converso com você pessoalmente. Direitinho, viu?”, sinaliza o vice.
Em outras conversas, o petista autoriza um funcionário do Posto Beira Rio a abastecer diversos carros particulares. No diálogo, Toninho avisa que os débitos devem ser contabilizados para “P”, sigla da Prefeitura de Monte Azul, segundo as investigações da Polícia Federal.
O outro lado
Em entrevista realizada nessa quinta-feira (20), o deputado estadual Paulo Guedes (PT) demonstrou irritação ao ser questionado se a campanha dele em Monte Azul foi favorecida pelo suposto esquema de compra de votos montado por lideranças do partido na cidade. “Não existe nada que me incrimine nessa investigação. Não fui denunciado em nada. Se houve desvio no INSS, a Polícia Federal e o Ministério Público têm que investigar. Fui na cidade uma vez para fazer campanha”.
Sobre o viés eleitoral da investigação, o parlamentar mudou o discurso. “Não estou acusando ninguém, mas se houve alguma irregularidade quem tem culpa no cartório precisa ser julgado e punido. Não tenho como controlar todos os aliados que tenho no Estado”.
O deputado federal Reginaldo Lopes foi contatado nessa quinta, pelo segundo dia consecutivo, mas ainda não respondeu aos pedidos de entrevista do Hoje em Dia.
A assessoria do parlamentar alegou que ele vai se pronunciar sobre o assunto, o que não ocorreu nessa quinta por estar em voo de Brasília para Belo Horizonte.