Investigação aponta deputado federal Ademir Camilo como dono do IMDC
Ademir Camilo negociava diretamente com o então ministro do Trabalho a liberação dos recursos para o IMDC, acusado de desviar cerca de R$ 400 milhões dos cofres públicos
O deputado federal Ademir Camilo (PSD-MG) é suspeito de ser o verdadeiro dono do Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC), a organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) apontada como pivô do esquema que teria desviado cerca de R$ 400 milhões de recursos destinados ao programa Pro jovem, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de acordo com investigação do Ministério Público Federal em Montes Claros.
A entidade está registrada em nome do empresário Deivson Oliveira Vidal, preso na segunda-feira durante a Operação Esopo, que prendeu 22 pessoas, seis delas ex-prefeitos de cidades mineiras, e provocou a queda de quatro pessoas da pasta do Trabalho, entre elas o secretário-executivo Paulo Roberto Pinto, filiado ao PDT.
O homem de confiança de Ademir Camilo, Marcos Vinícius Silva, o Marquinhos, que foi seu assessor na Câmara dos Deputados até julho, era quem apresentava o IMDC aos prefeitos para implantação do programa. Natural de Teófilo Otoni (MG) Ademir atuou como médico em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. Marcus Vinicius foi chefe de gabinete do ex-prefeito de Araçuaí, Aécio Jardim (PDT) que também está sob investigação da PF.
Considerado o pai do Pro Jovem em Minas, Ademir Camilo, segundo o MPF, não se preocupava em esconder sua ligação com o IMDC. Por diversas vezes, ele foi convidado a fazer palestras durante a apresentação do programa nas prefeituras de sua base eleitoral, beneficiadas com recursos do MTE.
De acordo com as investigações, realizadas com apoio da Polícia Federal, o deputado procurava os prefeitos aliados e interessados em receber recursos do programa. Em seguida, negociava diretamente com o então ministro Carlos Lupi – presidente nacional do PDT e à época seu colega de legenda – a inclusão das cidades na lista dos beneficiados.
A partir daí, entrava em cena a figura do ex-assessor Marquinhos –coordenador de campanha do parlamentar nas regiões Norte e Nordeste de Minas. Com o dinheiro liberado na conta das prefeituras, Marquinhos se encarregava de apresentar aos gestores o IMDC para implantação do Pro Jovem, por meio de licitações fraudulentas ou mesmo sem concorrência.
O ex-assessor já era figura carimbada no MPF e na PF e teve prisão decretada também durante a Operação Violência Invisível, desencadeada em julho, para reprimir o desvio de recursos públicos por fraudes na compra de precatórios das prefeituras.
Em reportagem publicada pelo Estado de Minas, em janeiro de 2012, Ademir Camilo, ainda no PDT, participou da solenidade de lançamento do Pro Jovem em São Francisco, onde o IMDC foi responsável pela implantação do programa e também em Araçuaí.
Agora preso, o ex-prefeito da cidade José Antônio da Rocha Lima confirmou à PF que foi o parlamentar quem negociou a verba que viabilizou a contratação da Oscip, indicada pelo grupo. O ex-prefeito de São João da Ponte Fábio Fernandes Cordeiro (PDT) disse que o deputado negociava a liberação dos recursos diretamente com o ex-ministro Carlos Lupi. O deputado nega as acusações.
Dilma recebe o ministro
O ministro do Trabalho, Manoel Dias, esteve reunido por cerca de uma hora e meia com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto.
Foi a primeira vez que ele esteve com a presidente desde que a pasta imergiu em crise depois de deflagrada a Operação Esopo, da Polícia Federal. O ministro saiu sem falar com a imprensa.