Lei Seca completa três anos e não intimida mais motoristas
Moradores dizem que operações são cada vez menos frequentes, os encorajando a dirigir após beber
A campanha Sou pela Vida – Dirijo sem Bebida chega enfraquecida ao seu terceiro aniversário, neste mês. Apesar de as abordagens policiais terem aumentado e as infrações e os crimes em Belo Horizonte terem diminuído, motoristas dizem que, após um período de cerco apertado pelas autoridades e respeito à regra por parte dos condutores, faltam blitze. Com menos fiscalização, eles se sentem livres para beber e dirigir. O governo nega a redução das ações.
O último balanço da campanha divulgado pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), de julho de 2013 a maio de 2014, registrou quase 60 mil veículos abordados, 781 infrações e 360 crimes. Os dados do balanço anterior somam 1.071 infrações e 467 crimes, além de menos de 50 mil veículos abordados.
O advogado Carlos Cateb, membro da Comissão de Direito no Trânsito da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas (OAB-MG), defende que a fiscalização da Lei Seca nunca foi severa na capital.
“O número de blitze foi muito reduzido em Belo Horizonte e também nas estradas. Temos visto inúmeros acidentes, e não acredito que as infrações e os crimes tenham diminuído, nem que as pessoas estão mais conscientes, e sim que existe negligência e omissão das autoridades competentes”.
Drible. Muitos motoristas também afirmaram que perceberam a redução do número de blitze da Lei Seca em vários pontos da cidade e que, por causa disso, o medo de serem pegos desapareceu. “Eu saio todos os dias do fim de semana em Belo Horizonte e não me preocupo com blitz. Acho que até hoje vi apenas uma. Também costumo sair muito no Rio de Janeiro, mas lá eu não bebo e dirijo porque, além de elas (blitze) serem em lugares estratégicos, dos quais a gente não consegue desviar, os policiais param todos os carros mesmo”, explica uma jovem de 26 anos, que não quis ser identificada.
Uma advogada de 45 anos revela que beber e dirigir é um hábito comum. Para driblar a fiscalização, ela faz o trajeto de volta para a casa por dentro dos bairros, onde o controle é bem menor. “Se eu tivesse medo da fiscalização, não beberia. Não deixo de dirigir por ter bebido apenas dois copinhos de cerveja”, afirma.
Um economista de 34 anos conta que costuma ir de bar em bar nas tardes de sábado e ainda sai à noite, sempre acompanhado de uma “cervejinha”. “Vejo policial na rua, mas blitze, nenhuma”.
Consequência
Lei. Dirigir sob efeito de álcool é considerado infração gravíssima. Além de ter que pagar multa de R$ 1.915,40, o motorista perde o direito de dirigir por 12 meses.
Aplicativos
Exemplo. Um administrador de 37 anos, morador da Pampulha, conta que mudou de hábitos após ser pego em uma blitz, em 2011. Hoje, no entanto, perdeu o medo. “Só saía perto de casa porque pegava táxi ou carona. Mas como agora não vejo mais blitze, apenas olho nos aplicativos se tem polícia por perto”, conta. Assim como ele, muitos motoristas que
se arriscam a beber e dirigir usam esses aplicativos.
Autoridades. A Secretaria de Estado de Defesa Social informou, em nota, que, ao indicar o local onde uma blitz acontece, que é preventiva para evitar acidentes e coibir a criminalidade, o usuário está prestando um desserviço à comunidade e prejudicando as ações de segurança.
Com Copa do Mundo, blitz ficam ainda menos frequentes
O reforço no policiamento ostensivo para a Copa teria prejudicado ainda mais a Lei Seca. Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Defesa Social informou que “houve reposicionamento de policiais militares para reforço das atividades de policiamento ostensivo em toda a cidade. As ações de Lei Seca continuam sendo realizadas, porém o combate à criminalidade, rondas e abordagens têm sido atividades prioritárias”. Do dia 12 ao dia 29, foram 368 abordagens, dez infrações e nenhum crime, segundo a Seds.
“Tenho atravessado a cidade para ver os jogos, vendo na Savassi ou na Pampulha e voltando para o Buritis, e realmente tem muita polícia na rua, mas nenhuma blitz da Lei Seca”, disse uma administradora de 25 anos.
O Batalhão de Trânsito disse que só poderia se manifestar após a Copa.