O surgimento do Protestantismo almenarense e a expansão dos evangélicos
Economista Evandro Miranda (*)
Por ocasião da criação do distrito de Vigia (hoje Almenara), em 1887, a Igreja Católica era a religião oficial do Império. Com o advento da República, a Constituição de 1891 consagrou o princípio basilar da separação entre o Estado e a Igreja.
Nesta época, ficaram asseguradas também outras medidas liberais, tais como liberdade de culto, casamento civil e secularização dos cemitérios. Abre-se espaço para o florescimento de outras religiões no País.
Neste contexto, em 1917, percebendo a importância do distrito de São João da Vigia, os protestantes, provenientes da Bahia, ali, fundaram um colégio equivalente ao Curso Primário. É um marco educacional para a comunidade vigiense.
O Colégio esteve sob o comando do Prof. Estevão Araújo. Depois, ele casou-se com Luzia Sena, pertencente a uma família que é dos baluartes do protestantismo almenarense. Posteriormente, ele transferiu-se para o Jacinto, onde prestou relevantes serviços à comunidade. Lá, há um colégio público com o nome do emérito professor.
Por volta de 1950, ocorre a inauguração da 1ª. Igreja Presbiteriana, situada na antiga Rua do Meio (depois Rua Rui Barbosa). Época marcada pelos memoráveis pousos dos teco-tecos, pilotados pelos missionários norte-americanos – os Reverendos Willian Elton, Jorge Glass e Rogério Perkins.
No sobrevoo, antes do desembarque no aeroporto Cyrillo Queiroz, então, recém-inaugurado, estes missionários soltavam panfletos, convocando a população para as cerimônias religiosas. Realizavam-se também projeções de filmes e outras atividades.
Naquela época, as religiões evangélicas eram minoritárias no País. Representavam apenas 3,4% da população, contrapondo aos 93,5% de católicos.
A partir dos anos 70 (época do milagre econômico), com as migrações internas e intensificação da urbanização, há uma alteração da curva das religiões no País. De fato, a ausência da Igreja Católica e do Estado facilitou a ampliação dos evangélicos, sobretudo nas áreas mais afastadas dos centros urbanos.
Desgarrados de suas origens, em sua maioria, provenientes do meio rural – ambiente marcado pelos valores de uma sociedade tradicional – os migrantes se viram perdidos nas periferias das grandes cidades. Reencontram novos valores e o senso de convivência comunitário dentro das igrejas evangélicas.
Não é por outra razão que o Papa Francisco tem insistido na necessidade do clero católico sair de dentro das igrejas. Ele propõe a prática uma religião menos voltada para dentro de si mesma, redirecionando-se para as pessoas, em especial, aos segmentos mais carentes e menos assistidos da sociedade.
Hoje, os evangélicos somam algo em torno de ¼ da população do País. Esse aumento foi alavancado pelos pentecostais. Usam um ritual simples, com linguagem direta junto às populações.
Almenara não fugiu a esta realidade, haja vista as várias igrejas evangélicas nela existentes. Desde 1998, a 1ª Igreja Presbiteriana funciona em um amplo templo, situado na Rua Bias Fortes.
A foto dela e do primeiro templo – tal como era à época da inauguração – compõem o painel deste artigo. Nele, figura também o pouso dos três mencionados missionários a bordo dos teco-tecos, assim como a foto recente da antiga igrejinha. Folgo constatar o seu excelente estado de conservação.
É como trago esses fatos ao conhecimento das novas gerações de almenarenses. Afinal, povo sem memória não é capaz de se auto governar. A palavra de ordem é cidadania.
(*) Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Pós-Graduado em Didática de Ensino Superior (UNEB-DF). Analista Financeiro do SERPRO–Serviço Federal de Processamento de Dados. Ex-Coordenador-Geral da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda