Idosa de Almenara lembra infância, romance com marido e nascimento dos filhos
Gregória de 85 anos fala em detalhes sobre datas e acontecimentos da vida.
Aposentada Gregória Batista da Silva ainda conserva na memória datas dos principais acontecimentos que viveu. Aos "85 anos e dois meses" de idade, como faz questão de enfatizar, ela tem a memória recheada de histórias, realidade não tão comum aos idosos, segundo o neurologista Renato Lima Ferraz.
Moradora de Campo Grande, dona Gregória, como gosta de ser chamada, dá atenção especial às datas de cada lembrança que conta. Ao falar dos filhos, por exemplo, ela menciona, por iniciativa própria, o dia, mês e ano de nascimento de cada um dos dez que teve de parto normal. Seis continuam vivos.
O neurologista explica que a qualidade da memória está condicionada a uma série de cuidados específicos e, principalmente, a fatores genéticos. "É louvável ver uma pessoa com a memória tão ativa assim. Às vezes, é questão de cuidado ou questão de genética dela mesmo", explicou.
Dona Gregória
A família afirma que a aposentada não tem Mal de Alzheimer, doença degenerativa que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge cerca de 40% das pessoas com a mesma idade da idosa e que prejudica a memória.
Sentada em um sofá na área externa da casa onde mora sozinha, dona Gregória narra ao G1, com riqueza de detalhes, acontecimentos desde a infância, quando trabalhava na roça com a família, o romance com o falecido marido, que já tinha 16 crianças quando eles se casaram, e a data de nascimento dos filhos.
O primeiro filho do casal nasceu no dia 1º de julho de 1957, segundo a idosa, um ano depois do casamento com o marido. “Meu pai faleceu em 1958 e ganhei meu outro menino em 1959. Daí os outros foram nascendo com diferença de mais ou menos um ano um do outro. Meu filho caçula nasceu em 1971”, conta.
Dona Gregória conta que tinha 26 anos quando se casou. O marido, recém-viúvo, era 33 anos mais velho. A união durou 22 anos e foi interrompida pela morte dele, em 1979, quatro anos depois que a família se mudou para Campo Grande. Antes disso, eles moravam em Almenara (MG), onde se conheceram.
“Eu trabalhava rezando porque eu não queria casar, mas pedia para Deus: Senhor, se algum dia o Senhor quiser que eu case, me dê uma pessoa para cuidar de mim. E ele atendeu meu pedido”, lembra.
Apesar de algumas recordações terem mais de oito décadas, dona Gregória é modesta ao dizer que não tem a memória tão boa quanto gostaria. “Antes a memória era melhor, agora não é tão boa assim porque tenho problema de nervos, daí às vezes fico nervosa e esqueço as coisas”, avaliou.
A vaidade é outro ponto que chama a atenção. A idosa se enfeita com brincos e colares coloridos para ir à igreja. O ritual é repetido todas as quartas-feiras, sábados e domingos e é uma das coisas que ela mais gosta de fazer além de estar com os filhos. Dona Gregória, contam os filhos, ainda faz roupas de cama e tapetes com retalhos, sempre sentada no chão.
“Eles [filhos] me levam e depois só me buscam e quando não me buscam eu arranjo carona por lá mesmo, porque na igreja todo mundo é meu amigo”, afirma entre risos.