A denúncia por estelionato feita pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) contra o ex-vereador mais votado de Brumadinho e pré-candidato a prefeito do município, Guilherme Morais (PSD)foi aceita e a Justiça o tornou réu nesta quinta-feira (11).

  • A denúncia contra Morais foi em maio deste ano. Ele é suspeito de comprar uma caminhonete Hilux e sustar 16 cheques referentes ao pagamento do veículo.
  • O político já foi preso por atirar em um homem durante uma discussão e esteve envolvido em polêmicas na pandemia .
  •  O réu afirmou que, de fato, fez a compra do veículo enquanto ainda trabalhava no escritório de advocacia da vítima, e a empresa o deve o valor de R$ 152 mil.

     "A empresa me devia R$ 152 mil e eu devia R$ 150 mil para o diretor da empresa. Tentei contato com eles por diversas vezes, fizeram acordo de [me] pagar em 15 dias, e não pagaram. Não restou outra opção, registrei o BO na polícia e sustei o pagamento", disse o ex-vereador.
     Compra e venda

     Segundo a promotoria, em 2021, ele comprou uma caminhonete de R$ 200 mil com 20 cheques pré-datados, mas sustou os pagamentos na sexta parcela. Na época, Morais afirmou que teve um desacordo comercial e que "trata-se de uma perseguição política".

    Ainda de acordo com o órgão, para garantir a efetivação do crime, o ex-vereador passou o documento do carro para o nome dele e, em seguida, transferiu o veículo para uma terceira pessoa, deixando a vítima com um prejuízo de R$ 152 mil.

     "Assim, aquele que sabendo que o cheque que emite não tem fundos no presente e/ou não terá no futuro pratica o tipo básico do artigo 171, servindo-se desse instrumento (cártula pós-datada) para obter vantagem indevida em prejuízo alheio", argumenta o promotor Mário Konichi Higuchi Júnior, em trecho da denúncia.

     No documento, o MP ofereceu a suspensão condicional do processo, desde que sejam cumpridas as seguintes medidas, pelo período de dois anos:

  • proibição de frequentar determinados lugares, tais como bares, prostíbulos, casas de jogos etc.;
  • proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz, em viagens superiores a sete dias;
  • comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades, pelo prazo de dois anos;
  • reparar o dano causado à vítima ou restituir-lhe a coisa, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
  • pagar prestação pecuniária, no valor de R$ 10 mil, em conta bancária a ser informada pelo juízo.
  •  A denúncia foi encaminhada ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para análise.

     Várias polêmicas

     Esta não é a primeira vez que Guilherme Morais se envolve em polêmicas. Em maio de 2021, durante a pandemia da Covid-19, ele promoveu uma festa com dezenas de convidados aglomerados para comemorar o aniversário de 28 anos, em um condomínio fechado de Brumadinho.

    Vídeos mostraram diversas pessoas em pé, dançando ao som de shows de bandas e de um DJ, sem usar máscaras ou cumprir distanciamento social 

    Na época, Morais era vereador e assumiu que esteve em uma comemoração, mas negou que fosse dele. Um decreto municipal que estava em vigor proibia a realização de festas e eventos "de qualquer natureza", públicos ou privados, como medida de combate ao coronavírus.

    Com 1.041 votos, ele foi o vereador mais votado da história da cidade da Grande BH nas Eleições Municipais de 2020. A repercussão negativa da festa gerou a expulsão do Partido Verde (PV) por "desvios éticos". Em março de 2023, a Câmara recebeu um pedido de cassação do mandato.

    Durante a abertura de uma sessão parlamentar, Morais entregou uma carta com o pedido de renúncia à presidência da casa legislativa. Um apoiador dele chegou a agredir um pastor que subiu à tribuna para fazer uma denúncia sobre um suposto abuso sexual contra um adolescente.

    Em agosto do ano passado, Guilherme Morais oficializou a pré-candidatura à Prefeitura de Brumadinho. Em setembro, ele foi preso por suspeita de atirar em um homem com quem teve uma discussão.

    Segundo a Polícia Militar, a vítima contou que o ex-vereador estava flertando com a mulher dele. Nas redes sociais, o político postou um vídeo em que aparecia com um hematoma no olho direito e afirmava ter sofrido uma tentativa de homicídio.

    Na ocasião, a defesa dele disse que o ex-parlamentar tinha porte de arma, "devidamente legalizada", e que ele vinha sendo ameaçado pela vítima.