Com sucessivos aumentos, gasolina vendida em Minas rompe a barreira de R$ 7
Litro do combustível já vale R$ 7,099 em posto de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. Elevação de preços alcança 39,7% na Grande BH em um ano
Fora do curso da economia que começa a ganhar a normalidade conhecida antes da pandemia de COVID-19, os preços dos combustíveis não param de avançar e em Minas Gerais a gasolina já é encontrada acima de R$ 7 por litro. Os motoristas já pagavam ontem R$ 7,099 pela gasolina comum em posto do município de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, corrida que confirma a elevação desproporcional do custo do produto frente a inflação. Na Grande Belo Horizonte, o combustível sofreu reajuste de 39,73% nos últimos 12 meses até setembro, segundo pesquisa do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 10,30%.A alta dos preços, que pressiona em cadeia o custo de vida, encarecendo o frete dos produtos em geral, levou a Câmara dos Deputados a aprovar proposta de alteração na cobrança do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), mas, se adotada, o efeito deve ser breve. Grande parte da composição da gasolina está atrelada a fatores como o câmbio e o comportamento das cotações no mercado internacional.
O pesadelo para as famílias não tem data para terminar e a tendência é que os aumentos persistam. Em meio à escalada dos preços, Gabriel Quintanilha, especialista em Direito Tributário e professor convidado do curso de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro, acreduta que não há como estimar um teto do custo para abastecer. “Só quem vai poder precisar isso é o governo, no momento em que decidir se vai intervir — ou não —, subsidiando o combustível”, diz. Para Quintanilha, a retomada plena econômica após o caos imposto pela COVID-19 é essencial para acomodar o preço dosEntre os dias 3 e 9 deste mês, o preço médio da gasolina que sai das refinarias da Petrobras para ser vendida nos postos mineiros ficou em R$ 6,396. O valor foi superior àquele visto em São Paulo, por exemplo, onde o custo do litro era de R$ 5,808. O Rio de Janeiro, dono do recorde nacional, viu suas bombas apontarem R$ 6,764 por litro. Nas cidades de Minas com medição da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), não houve, antes do feriado, nenhum local que rompesse a casa dos R$ 7. Porém, o valor máximo observado em Ituiutaba, no Pontal do Triângulo, chegou bem perto: R$ 6,999. Teófilo Otoni, próxima a Araçuaí, também “bateu na trave”: R$ 6,948.
“O preço do combustível depende da variação do dólar, e sabemos que, no Brasil, está absolutamente descontrolado. O real foi a moeda que mais se desvalorizou frente ao dólar nos últimos dois anos. E, além disso, a variação do preço do petróleo, que também está sofrendo muita pressão de demanda no mundo inteiro. A inflação é realidade em países que nunca tiveram esse problema”, observa Gabriel Quintanilha.
Revolta"O preço da gasolina está um absurdo para todo mundo. Não há mais como os pais de família, principalmente aqueles que moram de aluguel, rodarem de carro e comprarem pão para os filhos”, desabafa o coletor José Aparecido Martins da Silva, 41 anos. Ele resolveu deixar o Gol, modelo 1998, na garagem e se desloca atualmente de bicicleta. A mesma decisão foi tomada por Vivian Alves Ferreira, de 54 anos, que aposentou a moto Biz para andar a pé. Ambos são moradores de Jaíba, no Norte mineiro, onde a gasolina já está sendo comercializada a R$ 6,75 o litro.
Do Vale do Jequitinhonha à outra ponta de Minas Gerais, em Pouso Alegre, no Sul do estado, a mudança de hábito também foi sentida. Na cidade, uma das mais desenvolvidas em solo mineiro, a gasolina já é vendida a R$ 6,96 o litro e a procura por combustível não é mais a mesma. “Estamos trabalhando no vermelho há muito tempo. O movimento caiu, está bem devagar, quase parando”, lamenta João Mariano, gerente de um posto no Bairro Santo Antônio.
“Os taxistas estão desamparados, sem ter a quem recorrer. Não temos quem vai segurar a peteca pra gente”, diz Antonio Vieira, taxista em Araçuaí, onde a gasolina ultrapassou os R$ 7. “O preço dos combustíveis sobe, mas não podemos reajustar o valor da corrida, pois as pessoas não têm condições de pagar”, complementa o profissional.
Com a disparada, uma preocupação também emerge no estado: evitar abusos. Em Governador Valadares, por exemplo, onde a gasolina já está a R$ 6,84, o Procon tem feito fiscalização rotineira nos postos de combustíveis. Na última operação, foram visitados 53 estabelecimentos e todos estavam com margem de lucro dentro da normalidade.
Gasolina 3,32%