Seca deixa 139 cidades mineiras em emergência
Regiões do semiárido mineiro sofrem com a estiagem prolongada. O estado tem 101 mil pessoas que dependem do caminhão-pipa para sobreviver
Neste mês, os incêndios florestais aumentaram de forma significativa em praticamente toda Minas Gerais, com o forte calor e a vegetação seca dificultando o combate e favorecendo a expansão das chamas. Mas, nesse período, um antigo problema decorrente da longa estiagem também se agravou: a falta de água para o abastecimento humano.O flagelo da seca se soma aos impactos da crise gerada pela pandemia da COVID-19, com redução da renda no campo devido à interrupção das feiras livres, que serviam como opção de venda da pequena produção da agricultura familiar. De acordo com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), atualmente, o estado conta com 101 mil pessoas que têm que esperar pela chegada do caminhão-pipa para o abastecimento humano.
Desde 15 de maio que o governo estadual, dentro do seu Plano de Convivência com a Seca, após a elaboração de um diagnóstico, baixou decreto reconhecendo a situação de emergência por causa da falta de chuvas em 127 municípios do semiárido mineiro.
De lá pra cá, o quadro se agravou e mais outras 12 cidades tiveram decretos próprios do estado emergencial em função da escassez hídrica, ampliando para 139 o número de cidades mineiras com a condição crítica reconhecida por ato oficial. O último deles é Pavão, de 8,6 mil habitantes, no Vale do Mucuri, onde a situação de emergência foi decretada pela prefeitura em 3 de setembro.
Segundo Nassau, o objetivo é que seja realizado um treinamento para os coordenadores de defesa civil das prefeituras, a fim de que eles possam elaborar o relatório de danos provocados pela escassez de chuvas com dados precisos.
O documento é necessário para a “renovação” do decreto estadual da homologação da situação de emergência, cuja prorrogação, posteriormente, também deverá ser reconhecida pela Defesa Civil Nacional.
O representante da Amams disse que, normalmente, o decreto de emergência tem prazo de validade por seis meses. No entanto, ainda não se sabe por quanto tempo deverá ser feita a prorrogação a partir de 15 de novembro.A associação de municípios pediu à Cedec que parte dos recursos obtidos pelo governo do estado por meio do acordo com a Vale para reparação dos danos do rompimento da barragem de rejeitos de minério em Brumadinho seja aplicada na compra de cisternas de captação de água da chuva e caixas d’água para as famílias atingidas pela seca.
“Somente em dezembro teremos chuvas significativas no Norte de Minas e nos vales do Jequitinhonha, do Mucuri e do Rio Doce”, afirma.
Em novembro, a nova temporada chuvosa vai começar em Minas, mas com densidade pluviométrica concentrada no Triângulo, sendo previstos volumes baixos para as demais regiões do estado naquele período.
Falta de água impacta a geração de rendaOs flagelados da seca também sofrem os impactos da pandemia da COVID-19, que reduziu a renda dos agricultores familiares no campo por causa da interrupção das feiras livres, onde vendiam seus produtos.
Segundo o prefeito de Francisco Sá, Mario Osvaldo Casasanta (Avante), aproximadamente seis mil pessoas de 70 comunidades rurais dos municípios estão recebendo água levada por cinco caminhões-pipa do Exército.
A barragem do Rio São Domingos, que abastece a cidade, está com apenas 14% de sua capacidade. A prefeitura recorre a poços tubulares para garantir o abastecimento da população urbana, mas com racionamento, em sistema de rodízio em diferentes regiões da área urbana.
Em Juramento (4,35 mil habitantes), também há seis meses 635 famílias de 10 localidades rurais têm que esperar a água do único caminhão-pipa que circula no município. O coordenador de Defesa Civil da Prefeitura de Juramento, Wanderson Sottani Magalhães, afirma que a crise sanitária do coronavírus fez piorar a vida de quem, há anos, sofre com as agruras da falta de chuvas na região.“Em decorrência da pandemia, muitas pessoas ficaram desempregadas. E no decorrer da seca os animais de criação morrem e a produção de alimentos fica perdida. O psicológico das pessoas também fica abalado.”
Quadro semelhante é encarado em outro pequeno município norte-mineiro, Berizal (4,79 mil moradores), onde 12 comunidades rurais (635 pessoas) estão sendo abastecidas por dois caminhões-pipa. “Produtores rurais ficaram sem as feiras livres e sem a comercialização dos seus produtos”, salienta o coordenador de Defesa Civil do município, Fabio Aquino.
Ele acrescenta que, devido ao cancelamento das atividades presenciais nas escolas da rede pública, os agricultores familiares de Berizal também ficam impedidos de vender seus produtos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar.O município de Janaúba (72,37 mil habitantes) conta com cerca de 1 mil famílias de 37 comunidades consumindo a água que chega por meio de um caminhão-pipa. De acordo com a prefeitura, não são registradas chuvas volumosas na cidade há 140 dias.
Nos últimos dias, além da escassez de água na zona rural, Janaúba teve grandes prejuízos com o fogo na vegetação seca. Um incêndio florestal atingiu a Serra do Taquaril durante seis dias. As chamas foram controladas na sexta-feira, depois de consumirem 1.100 hectares.