Entrevista Secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais - Zé Silva
Encontro Regional em Almenara contribui para construção de agenda estratégica para o desenvolvimento sustentável da agricultura até 2030
O Governo de Minas está promovendo uma série de encontros no Estado para a construção de agenda estratégica do desenvolvimento da agricultura e pecuária mineiras. O objetivo é definir ações integradas para nortear as políticas públicas do setor até 2030. Nesta sexta-feira (21/02), o secretário de Agricultura Zé Silva vai se reunir em Almenara com representantes do segmento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Ao todo serão sete etapas, com encontros no Triângulo Mineiro, Noroeste/Alto Paranaíba, Norte de Minas, Rio Doce/Zona da Mata, Central/Centro-Oeste e Sul de Minas.
- Quais os principais pontos que serão abordados nos encontros regionais?
Secretário Zé Silva – Para nortear as discussões para a construção da agenda estratégica do desenvolvimento sustentável da agricultura mineira, no período 2014-2030, a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento elaborou um documento que reúne os cinco principais desafios para a humanidade nas próximas décadas, e que estão diretamente relacionados com a agricultura: pobreza, produção de alimentos, meio ambiente, recursos hídricos e energia. Estas questões estão entre os maiores desafios da humanidade relacionados pelo ganhador do prêmio Nobel de Química, Alan MacDiarmid.
Neste documento, procuramos demonstrar a importância da agricultura em fornecer respostas para estes desafios. As questões que estão apresentadas para o debate são: como a agricultura pode contribuir para que a população tenha mais alimento, para a redução da pobreza nos meios rural e urbano; como o setor pode utilizar os recursos naturais de forma mais racional e, ainda, contribuir para a produção de energia.
Também estamos estudando a inclusão de mais dois eixos na construção da agenda estratégica, depois de ouvirmos as ponderações do Conselho Estadual de Política Agrícola (Cepa), do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável (Cedraf-MG) e de lideranças do setor agropecuário. Um desses eixos é a educação, uma ferramenta que muda a vida de uma nação. É fundamental para a agricultura mineira construir interlocuções com este segmento. O outro eixo é o da segurança. O campo precisa ser um espaço de vivência, com qualidade de vida e segurança, que é um tema atual que vem sendo debatido por toda a sociedade. O documento prévio elaborado com todos estes eixos vai balizar as discussões nos encontros regionais.
- Como será formatada esta agenda estratégica?
Secretário Zé Silva – Estamos ouvindo as lideranças regionais, técnicos, produtores, agricultores familiares, cooperativas, sindicatos e associações, instituições públicas de ensino superior e representantes dos povos das comunidades tradicionais. A proposta é que todos estes setores discutam esses eixos e apresentem estratégias para que a agricultura responda aos desafios apresentados, levando em consideração as peculiaridades, demandas e necessidades de cada região. Estas contribuições regionais serão consolidadas num documento estadual, que será lançado pelo Governo de Minas no final de março. A nossa perspectiva é estarmos alinhados ao Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI), que contempla ações estratégicas de governo, num período de longo prazo até 2030.
- Atualmente, quais os principais entraves para o desenvolvimento da agricultura?
Secretário Zé Silva – A agricultura é um setor muito dinâmico, na medida em que inúmeros fatores podem contribuir tanto favorável quanto desfavoravelmente. O mundo passa hoje por um quadro de grandes mudanças climáticas. O calor intenso e a falta de chuvas por um período prolongado são motivos de preocupação para todo o setor, na medida em que há perdas na lavoura, quebra de safra, redução da renda dos produtores e comprometimento em toda a cadeia produtiva.
Outro ponto de destaque é o desafio que temos que enfrentar com o aparecimento de novas pragas, como aHelicoverpa armígera, uma lagarta identificada recentemente, que possui alto grau de resistência ao controle químico. A situação tem surpreendido produtores e pesquisadores pelo seu poder de destruição, causando prejuízos principalmente às lavouras de milho, soja e algodão.
- O que vem sendo feito para os produtores que enfrentam prejuízos com a estiagem prolongada?
Secretário Zé Silva – É importante ressaltar que o impacto da seca atinge todo o estado; não é um problema restrito apenas à região do semiárido mineiro. Estamos negociando com o Ministério do Desenvolvimento Agrário a liberação de recursos para aquisição de sementes que poderiam contribuir para os estados que ainda estão na fase de plantio. Além de Minas, participam dessa articulação os secretários de agricultura de Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Maranhão e Bahia.
Outro ponto que está em discussão é a renegociação dos financiamentos feitos pelos produtores prejudicados pela estiagem. Existe também a necessidade de disponibilização de milho dos estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a alimentação do rebanho mineiro. O grão seria transportado das regiões do país onde ainda há disponibilidade de milho.
Também temos uma proposta à Conab para a destinação permanente, à Secretaria de Agricultura, de 50% dos recursos obtidos com a venda dos estoques de grãos da companhia, em Minas Gerais, para a formação de um fundo emergencial no Estado.
_Quais as expectativas para o setor agropecuário nas próximas décadas?
Secretário Zé Silva – Segundo estudos da FAO, órgão das Nações Unidas para agricultura e alimentação, o Brasil vai contribuir com 40% para o atendimento da demanda mundial de alimentos nas próximas duas décadas. Ou seja, temos uma grande missão em produzir alimentos não só para atender a segurança alimentar e nutricional da população, mas também para ter um excedente para disponibilizar para os outros países. E Minas Gerais assume papel preponderante nesta empreitada. O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio mineiro responde por aproximadamente 14% do PIB do agronegócio nacional, totalizando um volume de R$ 149,6 bilhões.