Transformação e inovação nas escolas: o que esperar do futuro?
Iniciativas criam novas abordagens e abrem caminhos, transformando a experiência de alunos e professores.
Movimento e constante transformação marcam os dias atuais. O modo como interagimos uns com os outros e com o mundo é completamente diferente de alguns anos atrás. Totalmente influenciados pelas novas tecnologias, chegamos a um ponto de virada na história, em que a automação em larga escala cresce e novas profissões estão surgindo.
De acordo com um estudo do Fórum Econômico Mundial de 2018, 65% da crianças que estão começando a estudar hoje ocuparão uma função completamente nova no futuro, que ainda nem existe. O que nos leva a pensar sobre como as instituições de ensino estão se comportando diante dessas mudanças. Será que nossos professores, coordenadores e gestores públicos estão preparados para mudar radicalmente sua forma de ensinar e gerir, levando em consideração a transdisciplinaridade do conhecimento e a preparação do aluno para a vida ?
Tanto a sociedade quanto o próprio sistema educacional estão acostumados a um ensino muito centrado na figura do professor, no qual os alunos não aproveitam todo o seu potencial de ação e proatividade, ou seja, apenas recebem o conteúdo. Mas existem iniciativas que estão criando novas abordagens e abrindo novos caminhos, transformando a experiência de alunos e professores.
Bons exemplos
O jornalista André Gravatá, coautor do livro “Volta ao mundo em 13 escolas”, viajou por uma série de países, como Argentina, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra e Suécia, para conhecer iniciativas dentro das escolas; O que mais o impressionou foi redescobrir, ao longo das mais de 300 entrevistas que realizou, o quanto são criativas e potentes as iniciativas que já acontecem no Brasil.
De acordo com André, nosso país não precisa olhar para fora para encontrar exemplos de projetos educacionais transformadores. “No Cieja Campo Limpo (Centros Integrados de Educação para Jovens e Adultos), mais de mil jovens e adultos convivem numa proposta que dialoga muito com o território onde a escola está situada, no Capão Redondo, em São Paulo. É uma escola cujo portão está aberto o tempo inteiro, em que os projetos desenvolvidos aproximam diferentes áreas do conhecimento e se desdobram em intervenções”, conta.
Outra iniciativa citada por André é a do CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento) de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Lá, a educação atua em várias frentes e mapeia os saberes, fazeres e memórias do território. “A partir das descobertas, nascem inúmeras tecnologias sociais, que se tornam práticas para potencializar a aprendizagem e também para afirmar a sustentabilidade e a economia criativa dos territórios”, explica André.
Humanidade, sustentabilidade e consciência ambiental
Quando falamos em transformação, não podemos deixar de lado as questões ambientais, como as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global e o sistema de consumo infinito. A consultora em sustentabilidade, Eliza Hostin, acredita que esses temas têm se tornado cada vez mais presentes dentro e fora do meio acadêmico. “É fundamental refletir sobre quais competências nos tornam ainda mais humanos e permitem florescer nosso potencial e quais competências um ser humano precisa para viver de forma autônoma. Estou falando de inteligência emocional, espiritualidade, consciência ambiental (entendimento do homem como parte da natureza e não um ser isolado desse sistema), habilidades interpessoais (comunicação não-violenta, gestão de conflitos, colaboração, vida em comunidade), inteligência financeira, artes e habilidades manuais. O ensino linear já não é mais suficiente para o mundo complexo em que vivemos”, defende.
Dentro desse contexto, Eliza cita as iniciativas do Projeto Âncora, em Cotia (SP) e a Cidade Escola Ayni, em Guaporé (RS), ambas apostando no desenvolvimento social aliado à aprendizagem para formar cidadãos conscientes de suas capacidades.
O que esperar do futuro da educação?
Tanto André quanto Eliza acreditam que a educação deve priorizar e incentivar mais as potências individuais dos alunos, dando-lhes voz ativa e os instigando a reconhecer seus propósitos. “Teremos a possibilidade de retornar para o que realmente importa – como cada um traz sua contribuição única e insubstituível – para criar um mundo onde todos tenham voz e vez”, comenta Eliza.
“É fundamental que, coletivamente, a gente valorize ainda mais as escolas e projetos de educação espalhados pelo Brasil onde a escuta, a empatia, a criatividade e a autonomia não são apenas palavras bonitas no discurso mas sim práticas cotidianas”, ressalta André Gravatá.
Outro ponto que o jornalista considera ser fundamental nestes tempos de transformação é a inserção do empreendedorismo nas escolas. “Seria interessante que os jovens descobrissem já na escola a diversidade de caminhos a partir de projetos que eles mesmos desenvolvam, experiências que vivam no corpo, em que atuem em diferentes papéis, com reflexão e prática caminhando lado a lado”, sugere.
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