Vereador preso em Ipatinga tinha mulheres humildes como principais vítimas para manipular salários, diz Gaeco
Osimar Barbosa (PSC), o Masinho, foi preso nesta segunda-feira (8); na casa do chefe de gabinete, investigadores apreenderam vários materiais que podem pertencer à Câmara Municipal.
Promotores e autoridades que estão à frente das investigações da operação Dolos, que apura um esquema de manipulação de salários de funcionários da Câmara Municipal de Ipatinga, detalharam no fim da tarde desta terça-feira (9) as ações que resultaram na prisão do sexto vereador da cidade. Osimar Barbosa (PSC), o Masinho, e seu ex-chefe de gabinete foram presos nessa segunda (8), em um desdobramento das ações do Gaeco.
Segundo o promotor Francisco Ângelo, o vereador manipulava os salários dos servidores, assim como os outros cinco vereadores investigados na operação. No caso de Masinho, as principais vítimas eram mulheres de origem simples, do ponto de vista econômico. Ainda segundo o promotor, o vereador assediava moralmente essas mulheres.
Com base no depoimento de ex-assessoras de Masinho, o Gaeco descobriu que as funcionárias devolveram ao político cerca de R$ 240 mil. Os investigadores não detalharam quanto cada funcionário repassou e também quantas foram vítimas do crime.
Apreensão de materiais
Ainda segundo os investigadores, na casa do chefe de gabinete de Masinho foram encontrados vários objetos e equipamentos que, em tese, pertencem à Câmara de Ipatinga. "Só para se ter uma ideia, são mais de 40 pacotes de folhas chamex, e no próprio pacote já consta que esses pacotes são objetos de licitação, motivo pelo qual ele tem a venda proibida. Encontramos também mais de dois mil copos descartáveis na residência desse indivíduo e, quando questionado, ele afirma que havia levado para sua residência para guardar”, explica o promotor Gilmaro Alves.
No último dia três de abril foi deferido mandado de prisão preventiva de Masinho, após pedido do Gaeco à Justiça. Segundo os investigadores, o vereador não foi encontrado em sua residência ao longo da semana e também não atendia ao telefone, o que dificultou o cumprimento do mandado.
"Contudo, no passado, por solicitação da Câmara, através da mesa diretora, nos foi pedido uma audiência aqui no Gaeco para tratarmos desses assuntos, para saber em relação às investigações. Para a nossa surpresa, ele [o vereador Masinho] veio acompanhar essa reunião. E, obviamente, nós não autorizamos a participação dele, momento em que foi dado cumprimento para este mandado de prisão”, completa o promotor.
Entenda o caso
A operação Dolos é uma ação conjunta entre Ministério Público, Polícias Civil e Militar, através do Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Segundo as investigações, vereadores de Ipatinga contratavam assessores e exigiam deles parte do salário de volta.
De acordo com o MP, o esquema para arrecadar a verba acontecia de mais de uma maneira. A primeira delas no recebimento e entrega de valores em espécie ao representante do Legislativo por parte do funcionário contratado. A segunda modalidade era a retenção do cartão bancário, com o repasse de pequeno valor ao funcionário e manipulação na folha de ponto; muitos destes funcionários, segundo o Gaeco, eram "fantasmas". A terceira, o vereador determinava a realização de empréstimos bancários por parte de servidores com o saque e transferência para contas de interpostas pessoas que eram usadas como laranjas visando maquiar o real destino dos valores.
De acordo com o Ministério Público, além do enriquecimento ilícito, o dinheiro exigido dos assessores servia para fortalecimento dos vereadores em bairros, visando as eleições municipais. Ao todo, 12 pessoas foram denunciadas na operação, entre vereadores, assessores, contadores, corretores de imóveis e comerciantes.
São investigados no esquema, segundo o Gaeco, os ex-vereadores Paulo Reis (PROS), Rogério Antônio Bento (sem partido) e José Geraldo de Andrade (Avante), que perderam mandato ou renunciaram ao cargo na Câmara, além dos vereadores Luiz Márcio Rocha (PTC) e Wanderson Gandra (PSC). Comissões processantes foram instauradas na Câmara Municipal para avaliar as condições dos vereadores investigados.