UFMG isola prédio após reprovado no sistema de cota ameaçar metralhar junta
O clima é de medo e de muito desespero no local, segundo alguns servidores
Escadas e elevadores de acesso ao terceiro andar do prédio do Centro Acadêmico Didático (CAD) 2, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, foram isolados no início da tarde desta quarta-feira (20) depois que um candidato reprovado no sistema de cota racial ameaçou, por e-mails, metralhar todos os professores, funcionários e alunos que fazem parte da junta que analisa as características físicas dos cotistas, observando aspectos como cor da pele e textura dos cabelos. O clima é de medo e de muito desespero no local, segundo alguns servidores.
Vários seguranças da UFMG estão no prédio e controlam o acesso de pessoas ao terceiro andar, onde a banca analisa os recursos impetrados por candidatos reprovados.
O primeiro e-mail com ameaças foi enviado por volta das 2h da madrugada de sábado, mas os servidores só tiveram acesso na segunda-feira de manhã, quando retornaram do fim de semana. Em uma das mensagens, o homem diz que a universidade interrompeu os sonhos dele e que todos vão pagar por isso, que vai cortar a cabeça de todo mundo, que é filho de Lúcifer e que vai levar todo mundo para o inferno”, afirmou um servidor que pediu para não ser identificado.
“Ele fala em matar, que o sangue vai escorrer da cabeça de todo mundo, que vai mandar todo mundo para o inferno. Estamos desesperados. O prédio fica aberto das 7h às 23h e muitos servidores não vieram trabalhar hoje”, conta um servidor, que pediu para não se identificar. Segundo ele, a reitoria estava com receio de acionar a Polícia Federal (PF) e criar um clima de pânico na universidade. Segundo ele, os acessos ao terceiro andar do CAD começaram a ser fechados por volta das 11h e a banca começou a trabalhar às 13h. Um servidor conta que foi embora mais cedo, na terça-feira, quando ficou sabendo das ameaças.
A assessoria de imprensa da UFMG foi procurada pela reportagem e ainda não se manifestou.
Entenda o caso
Conforme divulgado pelo O TEMPO em 27 de fevereiro, a UFMG barrou a matrícula de 346 candidatos que se inscreveram no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para ocupar vagas de cota racial ou para pessoa com deficiência.
De acordo com a UFMG, de um total de 3.595 candidatos classificados para o primeiro semestre letivo deste ano, e convocados para fazer registro acadêmico presencial, que aconteceu entre os dias 15 e 19 deste mês, 965 se inscreveram para ocupar vagas de cota racial, sendo 73 para as vagas de pessoa com deficiência.
Em Belo Horizonte, dos 842 estudantes que compareceram ao registro, 525 tiveram sua matrícula confirmada, e 327, indeferida. Em Montes Claros, dos 43 candidatos que compareceram, 24 tiveram o registro acadêmico confirmado, e 19, indeferido.
Pela primeira vez, neste ano, os candidatos que compareceram para o registro acadêmico presencial passaram por um procedimento complementar de “heteroidentificação racial”, que é uma junta composta por cinco pessoas (professores, funcionários e alunos da UFMG), que analisa as características físicas dos cotistas, observando aspectos como cor da pele e textura dos cabelos. “A comissão avaliou o fenótipo de cada candidato e decidiu se ele tinha características fenotípicas associadas à população negra”, explica o presidente da Comissão Permanente de Ações Afirmativas e Inclusão da UFMG, professor Rodrigo Ednilson.
“O indeferimento da matrícula pode ocorrer por diversos motivos, como inconsistência na documentação apresentada para comprovação de renda familiar, de procedência de escola pública, e não atendimento a critérios avaliados pela comissão de heteroidentificação racia,l ou pela banca de verificação para pessoas com deficiência”, esclarece a UFMG.
Ainda de acordo com a universidade, os candidatos que tiveram a matrícula indeferida poderiam entrar com um recurso na própria UFMG, até 1º de março, ou no dia 7, para que passassem por outra comissão, que também avalia suas características fenotípicas.