Sepultado ipatinguense morto após rompimento da barragem da Vale em Brumadinho
Ninrode de Brito Nascimento deixa esposa e filha; corpo estava mutilado e foi reconhecido através de análise da digital, segundo a família.
Foi sepultado no início da tarde desta terça-feira (29), em Ipatinga, mais uma vítima do rompimento da barragem Mina de Feijão. Ninrode de Brito Nascimento, de 34 anos, morava em Brumadinho há dois anos e há sete meses era funcionário do setor de planejamento da Vale. Ele era casado e tinha uma filha de dois anos de idade.
Segundo a família, o corpo de Ninrode ficou mutilado e o reconhecimento foi realizado através da análise das digitais. “O reconhecimento foi por digital. Os técnicos do IML nos aconselharam a não ver pessoalmente, porque ele estava muito mutilado. E a gente que já tem experiência em relação a isso, porque minha mãe morreu em um acidente, ela ficou muito deformada e eu vi. Preferia ter guardado a recordação de quando ela estava viva. Aí aconteceu isso com Ninrode, prefiro ter a lembrança dele vivo”, declarou Edson Ferreira, irmão da vítima.
De acordo com Edson, nesse momento a família tem uma mistura de sentimentos após o sepultamento de Ninrode. “Sinceramente, para a gente é um momento de tristeza, mas ao mesmo momento é de alegria. Porque a gente sabe que tem muitas famílias que não vão encontrar seus parentes. Estava escutando bombeiro falando que tem previsão de 60 dias de trabalho. Então você imagina o que é você esperar 60 dias por alguma informação, esperar e não aparecer seu ente querido. A gente tem que dar graças a Deus porque nós encontramos, o corpo, mas nós encontramos”.
Ninrode fazia parte de uma família grande. Segundo o irmão, a vítima vivia um momento feliz e nunca havia alertado sobre perigo na barragem. “Nunca mencionou nem com a esposa relação a perigo. Ele tinha comprado um lote, estava muito feliz, queria investir lá [em Brumadinho]. Era novo, com 34 anos, cheio de planos, de projetos. Ele é o décimo filho, a nossa família é grande. Ele é adotado, do segundo casamento, o meu pai adotou. Meu pai dizia que ele era o filho da velhice. Ele sempre foi muito reservado, teve uma filhinha, passou Natal com a família no sítio, estava muito feliz”, comentou Edson Ferreira.
Para pessoas que estão passando pela mesma situação que a sua família, Edson Ferreira aconselhou paciência neste momento. “A gente tem que exercitar a paciência. Não era pra ter acontecido, mas aconteceu, e as pessoas que estão na busca, os bombeiros, são capacitados, eles que tem condição de entregar o corpo vivo ou morto. Então a pessoa tem que exercitar a paciência e buscar informações. Não adianta se desesperar, porque não ajuda nada. As pessoas precisam se solidarizar um com o outro, estar apoiando um ao outro, isso é importante nesse momento”.
O que a família de Ninrode espera é que os responsáveis pelo rompimento da barragem sejam responsabilizados. “Eu acho que depois desse acidente as consequências já começaram diferentes, daquele acidente anterior. Então eu acredito que daqui pra frente, a gente tem que ter fé que as coisas vão mudar. Até a forma de tratar os culpados. Porque não precisa ser técnico de segurança para você saber que um restaurante e uma área administrativa debaixo de um possível rompimento vai atingir primeiro essas pessoas; tem uma coisa errada nisso”, opinou.
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