Dentre os desaparecidos após o rompimento da barragem da mina de Feijão, em Brumadinho, está a engenheira Izabela Barroso, de 30 anos, natural de Governador Valadares. A família da vítima esteve no local da tragédia. De acordo com Gustavo Câmara, irmão de Izabela, por parte da família não há mais esperança de encontrar a engenheira com vida.

“Não, nenhuma. Não tem ninguém vivo. Eu vi. Você não consegue mensurar o tamanho que é de desastre. Você vê de onde a lama correu, da altura que ela correu, por onde passou, a velocidade, a força que ela bateu, é muito difícil. O que eu quero hoje é encontrar a minha irmã. Os nossos anseios são tão pequenos, a gente só quer encontrar o corpo, dignidade e respeito, sentimento de Justiça vai vir depois”, declarou Gustavo.

Críticas ao atendimento dado aos familiares

Por não conseguir as informações no centro de conhecimento da Vale, por estarem desesperançosos e pela preocupação com a condição da mãe, Gustavo e o pai voltaram para Valadares antes do término das buscas. “Meu pai tem 70 anos, nós ficamos 28 horas lá em pé, sem suporte, e no sábado quando já havia esgotado as esperanças, quando a gente ouviu pela mídia que já não haviam pessoas vivas, que já não havia esperança, a gente decidiu voltar para Valadares porque a minha mãe está muito abalada, e a gente decidiu voltar para dar suporte para ela”, relatou.

Segundo o irmão de Izabela, nenhum contato foi feito por parte da empresa após o rompimento da barragem. “Até hoje [segunda-feira] a Vale não entrou em contato pelo número de emergência. A Vale sabe que minha irmã estava dentro da mina, sabe que minha irmã bateu o ponto dela. A Vale não foi capaz de ligar para falar que a minha irmã estava lá. Não teve tato, não teve sensibilidade, não teve humanidade de fazer isso", afirma Gustavo.

'Não é desastre, é crime'
Apesar de declarar que a família neste momento só quer encontrar Izabela, Gustavo condenou o local onde a irmã trabalhava e fala em crime por parte da empresa. “Importante a gente frisar que aquilo não foi um desastre. Aquilo foi um crime. A Vale cometeu um crime, aquilo não é um desastre. Desastre é terremoto, é maremoto, é furacão, aquilo não é desastre. Você construir uma barragem sobre a cabeça de 800 funcionários e pedir que eles trabalhem debaixo dessa barragem, isso é crime”, declarou Gustavo, que falou em sensação de descaso por parte da Vale.

“Temos uma sensação de impotência tão grande, sensação de desprezo. Você fica pressionado por um poder econômico tão grande da empresa. Você se sente um nada que está debaixo daquela lama. A Vale não contabiliza vida, ela contabiliza número. Uma vida não é um número. Eu acho que a incompetência da Vale de fazer barragem é pública, é notória. Agora a gente vê que a Vale é incompetente também em lidar com vida, em lidar com pessoas, ela sabe lidar com número, com toneladas, com pessoas ela não sabe lidar”.

A barragem da mineradora Vale em Brumadinh usava uma tecnologia de construção bastante comum nos projetos de mineração iniciados nas últimas décadas, mas considerada por especialistas uma opção menos segura e mais propensa a riscos de acidentes.

Perfeccionista e apaixonada pela profissão